Blog

LEÃO COSMOPOLITA

25-02-2010 11:51

 

 

                            

 

 

Voraz deveras é a leonina fome:

Quanto mais se sacia, mais deseja, mais come.

Ela vaga pelo antrópico cosmus demandante:

Demandante de indulgências que lhe majorem a vontade

De degustar horizontes de manjares incessantes, espetaculares!

 

 

Porém, ela nutre predileção por alimentos tropicanos:

Sim, aqueles mesmos cujos cardápios pletóricos e jucundos

São conhecidos pelo nome de pratos latino-americanos.

 

 

Ah, a comida,

A comida cujo degustar é gostoso e rotundo...

Ah, a comida,

A comida cujo prazer total

É quando a visão palata e saboreia o plenilúnio...

Ah, como é boa a comida do Terceiro Mundo!

 

 

Sim, certamente, a leonina fome é mesmo insaciável:

Tanto que carcome cardápios que outrora

Vangloriavam-se em gozar de reserva inesgotável.

Não satisfeita, ela quer porções mais caudalosas, absurdas,

Altruístas. Sim, com efeito, é assim a voracidade incompassiva

Que reveste o corpo, a alma, a pele da fome do leão cosmopolita.          

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O OLHAR DE UM CÃO

25-02-2010 11:45

 

 

                               

Meu Cão me Olha . Olha

Como se estivesse com medo ;

Como Querendo me timidar argutamente ;

Como um tentar Dizer Algo me o Qual Não Saiba Sobre ELE.

Mas , então, eu, do alto da Minha jactante e mentecapta

Racionalidade ,

Não Consigo discerni - lo , compreendê- lo um bem da verdade :

A bem da verdade, compreendê- lo Quanto a Viagem da semântica de sabiá SUA e magicamente enigmatica

Mensagem !

Daí, Ele sai e Volta

Tal intermitente Processo UM e desordenado :

Perfeito em Ordem Caótica SUA . Perfeito Seu ciclo em

Estanquemente contínuo, interminável !

Ah, Mas Neste entreato ,

O Mesmo perscruta Outras paisagens : nuanças uniformes

De Cenário Mesmo um.

Ah Todavia , Toda Mão

Que Ele me enseja Este Olhar ,

Sou inundado Por Uma tsunâmica Impressão :

Impressão profunda ! Ah, Que Minha Pessoa

De emoção derruba .

Fico perplexo Como o Mesmo em minh'alma penetra ,

Até então impermeável , inalienável , intacta , sem mácula , Incorrupta !

Em Resposta , tão Consigo dar LHE

O Meu açaimar Por conta da incompreensão Que Tenho

Sobre Aquele Olhar Que Ele me Lança .

Ah, Aquele Olhar me fascina ! Não, não É Aquele Olhar apenas,

Mas sim, Olhar Este. Sim, Exatamente , Olhar este, PORQUE , AO Ressonar em Minha cabeça , me desassossega e desorienta !

 

 

 

Ah, Mas Este Olhar emudeceu -me Completamente uma pretensa Percepção Que julgava Possuir Em relação à fauna.

Ah Olhar , Este: O OLHAR DE UM CAO doe- me N'ALMA !

Ah, sim, Toda Mão Que Os Meus Olhos COM OS SEUS se deparam ,

Este Seu Olhar esgarça , Calcina , paralisa -me uma continuação manancial

De palavras .

 

 

JESSE BARBOSA DE OLIVEIRA

O SELVAGEM LIRISMO

25-02-2010 11:30

          (TRIBUTO A HILDA HILST)  

 

 

Caminhando o caminho do diverso,

Ela nos mostra a lírica contida

No ferino, íntegro e libertino verso.

 

 

E ao galopar

Cômoda e colossalmente

Sobre o lombo do Pégaso da mente,

A mestra da feérica palavra lasciva e corrosiva,

Munida do antídoto contra a hipocrisia,

Transmuda sáfaras e necrópoles da consciência

Em edens monumentais do pensamento

Cuja paixão é navegar no oceano da contínua luminescência,

Mesmo sendo bombardeada pelo inexorável sol da inveja,

Da ira mais intensa!

 

 

Ventania, Rebeldia, Anarquia, Anti-hipocrisia, Amor de carne, Fantasia:

São tantas as alamedas em que ela,

Indomada, desfila;

É  tanta a energia que as suas mágicas palavras irradiam;

É tamanha a técnica que domina;

É tão imensurável a certeza de sua cintilante onipresença ladina e arredia

Que, embora seu corpo repouse

Na cidade da augusta dimensão desconhecida,

A verdadeira, alada,  carnosa, líquida, alcoólica Poesia

Sua pessoa, sempre e com muita alegria,

Imortaliza!

 

 

Vai, Ursa Maior

Vai, Tempestade

Vai, poderosa Melodia

Vai, inesperado e epifânico Graal

Vai, vocabular colossal Estrela ígnea

Vai, POESIA, seja eterna e simplesmente HILDA!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA   

A VÃ ESPERA POR SUNSHINE

23-02-2010 11:00

 

            

 

Nascido do mármore

Nascido da pedra

Nascido do sáfaro beco

Nascido da guerra.

 

 

Nascido do caos e da ordem

Nascido da fome

Que semeia, molda, flagela

E alimenta os sonhos da humanidade insone.

 

 

Nascido da lápide sem nome

Nascido dos vaga-lumes que tremeluzem

Nascido da fauna pusilânime

Nascido do anonimato do sangue.

 

 

Nascido do vento da hanseniásica calma

Nascido das chagas

Nascido do orvalho

Que refrigera os habitantes das contemporâneas cubatas.

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

ÁRIA PARA O VÁCUO

23-02-2010 10:55

 

                       

 

 

 

 

E este claro mar pênsil que diariamente se descortina

E esta frondosa floresta de utopias

Que se converte em Saara, Chernobyl, a Caatinga da Rima...

 

 

E esta água refracionda

Que não logra nem cala

O perigo de extinção da vida...

 

 

E estas infinitas rajadas de bala

Que irrompem do cano da pistola

Carcomendo irremediavelmente a sina meio madura ou crisálida

De quem morre assassinado, de quem mata...

 

 

E esta couraça que não se refrata

E este rio de lágrimas que não quara

E esta felicidade em coma

Que é o mais querido rebento da morte anunciada:

O Sarcófago da Alma de quem sonha...!

  

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

PALAVRAS DA NOITE

23-02-2010 10:51

 

              

 

 

 

 

Todo dia quando a noite me emprenha,

Ouço vozes murmuradas

Bradarem-me por socorro dentro da cabeça estupefata:

 

 

Em verdade, são sonhos de uma humanidade

Linear, congraçável, sábia, senhora da equânime magnanimidade,

Que se dirimem ao dinâmico perpasso das marmóreas cidades.  

 

 

Aí, o que tão-somente remanesce

É o amargo sabor da ferina frustração sádica

Qual ostenta um voraz sorriso de limalha.

Enfim sobra apenas o sol da liberdade

Esvaindo-se em Hipernova: Fantasmagórica Paisagem!  

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O ALCANCE DO OLHAR

20-02-2010 12:51

 

 

                              

 

Olho o olhar de quem chora.

Olho o olhar de quem despreza.

Olho o olhar acuidoso do corvo.

Olho o olhar ferino da fera!

 

 

Olho o olhar de quem brame.

Olho o olhar de quem geme.

Olho o olhar de desespero das africanas crianças.

Olho o olhar do sangue que derrama cotidianas vidas inocentes!

 

 

Olho o olhar de banzo das florestas.

Olho o olhar jocosamente lúgubre das favelas.

Olho o olhar de preconceito e orgulho

Da prole que é fruto da biológica brasileira Aquarela!

 

 

Olho o olhar de quem é bravura.

Olho o olhar de quem peleja.

Olho o olhar de quem tem a dignidade e a labuta

Como a sua genética Bandeira!

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CÉU ARTIFICIAL

20-02-2010 12:40

 

 

                        

Sob o teto de casa,

Fito o perpasso da vida:

Ora caminhando pela via

Da cromática sorumbática

Qual emana da íris pálida;

Ora deixando-se ficar imersa

Nas profundezas do mar da alacridade:

Esta a fluir caudalosamente

Pelos olhos e maçãs da face

Meditativamente ébria, errática aeronave!

 

 

A relação assimétrica

O cerne da mente invade:

Exequibilidade e a verve da vontade

Erigem a perniciosa consonância caótica, trágica

Que grassa, perfura, retalha

Como a mais afiada lâmina de navalha

Ou tal a vulcânica bomba detonada

Que faz da íntima pátria

A mais dantesca câmara mortuária.

 

 

Rancor e recomeço

Travam uma querela férrea

Que doma e flagela

As pradarias, plagas, malhas, cataratas

Da inconsútil e destemida alma.

 

 

 

 

No entanto,

Apesar da vigorosa órbita

De vórtices e tormentas,

A bem da verdade

É que a certeza

De um outro dia nascendo

Da retina do teimoso

Córtex brota. Fazendo

Brotar também a esperança

De que esteja próximo

O dia do logro da interior

Plena concórdia.

 

 

Afinal,

Sob o teto de casa,

Contemplo o perpasso da vida:

Paramento-me com estrelas-chagas

Quais amadurecem e dão a direção exata

Á minha visão temerária. Contudo,

Pouco cicatrizam: na verdade, exalam

O indelével perfume da mágoa

Cuja vivenda situa-se na minha

Agônica e baldia ermida cansada.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

SONHANDO VERSOS UNDERGROUND

20-02-2010 12:36

 

 

                

 

Meus pensamentos fluem

Obliqua e obtusamente:

Sua natureza flerta

Com a tez da bruma

E com o reino da esguelha.

 

 

Meus pensamentos desejam ser

A porta aberta que guarda

A alameda da órbita

Onde reside os versos

Quais revelam os mistérios dos

Sítios subterrâneos da mente e da alma.

 

 

Meus pensamentos anseiam

Ser pavimentados pelo cimento

Da indignação por testemunharem,

Impotente e pungentemente,

O florescer de flagelos, Guantânamos,

Miragens de erudição, diamantes sanguinolentos,

Frondosas árvores da metropolitana velhacaria

E crisálidas crepusculando sob a ternura

Do descaso que emana do seio do átrio da antemanhã urbana.

 

 

 

Meus pensamentos são assim:

Querem ser versos

Que sejam o perfume da gente comum

Embora saibam-se cativos

Da frívola e tosca eloquência:

Vivenda da poesia vazia, vã!

 

 

 

 

 

 

Afinal, gostaria que meus pensamentos

Portassem o vírus da consciência underground

Para que pudessem extrair do cosmo alijado

A real noção da forma dos seres e das coisas

Por debaixo da derme fabricada.

 

 

  

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

SÍLABAS DE ESCOMBROS

20-02-2010 11:56

 

 

                        

 

Miséria ano após ano anulando-nos:

Ria, mira;

Séria, mera;

                           P-MISERANDOS!

 

 

Indústria que se enriquece ao sol dos filhos da magna carência:

Dura, instrua;

Esquecer, doer, durma;

Lufada de ar frio que a estrela ígnea não esquenta nunca.

Fugaz oceano de alegria e rio eterno de tristeza que nos cala:

Radiosa face, fome, falta;

Esmola-Escola-Anuência-Máquina;

Sem-Terra, Sem-Teto, Sem-Aurora, Sem-Nada;

MAR-DE-GENTE-TRISTONHA-NO-JARDIM-E-EM-CASA!

 

 

Carcomida casta que lavra a seara de Garanhuns:

Carmo, caco, cava, cova;

Manada que acorda com os galos ao nascer d’aurora.

Comida comendo nenhuma coisa que se valha:

Que come mesmo é nada!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Glebas, Sáfaras, Estilhaços, Estrados, Pratos, Agros, Labuta;

Grilhões, Gritos, Cactos, estertores, ultrajes, loucura;

Grilhões, Luares, Sonhos, Fé, Romeiros, Procura;

Grilhões, Sertões, Profusa água esconsa, Miraculosa chuva;

Grilhões, Sorrisos rurais, Sofreres faciais, Perpétua luta!

Sim, é a Seca que molda, marca, mata, enxovalha, flagela, Inunda...

Sim, é a Seca que se faz a edaz comensal, a insaciável vampira,

A carnívora planta...

Sim, é a Seca, é aquela com a qual se lucra a cúpula dos Sanguessugas...

Sim, é a Seca quem fala, quem manda e desmanda...

Sim, é a Seca que se quer:

Quer que se traduza. Traduza-a em disformes caminhos e Estradas. Traduza-a em disformes frases, orações e

Sintaxes. Traduza-a em plenos coloquialismos, línguas

Semi-padrões, a forma culta!

Finalmente, traduza-a na intradução da tenacidade

Destas pessoas que, ao lançar seus olhos ao céu,

Sempre vêem um arco-íris dar-lhes em retribuição

Uma gargalhada de esperança que semeie aquele

Antigo provérbio no ressequido chão e

Diga a estes que dias melhores certamente virão.

  

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A EXPEDIÇÃO DA PALAVRA

20-02-2010 11:38

 

 

                                      

 

 

O engendro engendra a pedra

A pedra pedra a escolha

A escolha escolhe a relva

A relva relva a aventura

A aventura aventura-se na caverna

 

 

A caverna caverna o quadraçal

O quadraçal quadraça o granito

O granito granita o alimento da História, o desconhecido

O desconhecido desconhece o ódio contra o desejo

 

 

O desejo deseja o idílio

O idílio idilia o clarão

O clarão clareia a vitória da irmanação

A irmanação irmana-se á celebração

A celebração celebra a desgraça

A desgraça desgraça a solitária

A solitária solitaria a miséria

A miséria miseria o esquife

O esquife esquifia a opressão        

A opressão oprime a tranca

A tranca tranca a paixão

A paixão apaixona-se pelo tecer do cérebro

O cérebro cerebra o criatório da mente

O criatório cria a chama

A chama chama a mão

A mão manipula a caneta

A caneta caneta a mágica

A mágica chamada PALAVRA.  

 

  

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

APRENDIZ DE DIVAGAÇÕES

20-02-2010 11:34

 

 

               

 

 

O teto, acima de mim,

Jaz sólido:

Ainda sim,

Transidamente,

Eu o olho.

 

 

Escalavrado pela impotência,

Pelo vácuo, pelo tédio

De afluirmos,

Deliberadamente,

Ao estuário da vida,

Deixo-me domar

Pelo sobrepujante cavalgar

Do heliocentrismo da elegia.

 

 

Pesarosas lágrimas silentes

E invisíveis rolam-me

Por sobre a epiderme:

 

 

Crianças ao bel-prazer

Do ódio como agasalho

Da devoluta alma,

Devoluta pele e osso,

Devoluta mente,

Devoluto corpo

Sorvem a seiva da ira

Contra o Éden misericordioso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A eloquente voz de um homem

Esculpe, esmerila e grita

A oração: --- Sim, nós podemos, irmãos!

 

 

No entanto,

Será que esta sentença

Ganhará eco de materialização

No reino, hein, das vis-metais mentes e preconceituosos corações?

 

 

 

Não,

Tal convicção não acalenta

Meu escaldado ente-razão,

Mesmo quando agora

O contemplo segurando,

Firmemente, o poderoso cetro

Que norteia o rebanho

Das extáticas cabeças

Que, pelo obliquo caminho, vão.

 

 

Na verdade,

O que, cotidianamente,

Vejo é a construção

--- cada vez mais célere ---

De megalópoles quatro palmos

Abaixo do chão.

 

 

Na verdade,

O que, cotidianamente,

Vejo são vales de incauto sangue derramado

Regozijarem os galhardos iconoclastas

Da sábia vida prolífica:

O escárnio á longevidade da sua celebração, sua mádida magia!

 

 

 

 

 

 

Testemunho

Querelas que libam,

Avidamente,

O vinho da ganância por poder

Abrir sulcos e crateras

Na mansão do nosso altruísmo.

 

 

Testemunho

O gradiente do egoísmo e da maldade

Açambarcar-se, avolumar-se,

Caminhar de mãos dadas com a ubiquidade,

Tornar-se loquacidade, astuto

E voraz canibalismo onipotente:

O arrebate do arrebol da crueldade iminente e a corrosão selvagem,

Chama alimentando a sequidão leviana, alarve

Qual ansiosamente se encontra

Ás portas do sol que liberta

A aura da universal supernova hecatômbica, fúnebre, funesta!

 

 

Enfim,

O teto, acima de mim,

Jaz sólido:

Contudo o liquefaço

Com o lume dos pensamentos

Que emana da íris dos meus olhos opacos.

 

 

Sim,

Contemplo, como se estivesse

Confinado numa câmara

Hermeticamente fechada,

A insensibilidade degustar-nos

Incomensuravelmente deleitada.

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

O MIRANTE DO DESABROCHAR PRECOCE

18-02-2010 12:19

 

 

             

 

Ao descerrar a janela do meu quarto,

Contemplo a paisagem do quintal de casa:

Compleição bucólica em que predomina

Uma atmosfera que cintila ao sol da manhã de crisálida.

 

 

Aqui, parece que a alvorada

Se despede mais cedo:

Entrega-se ao arrebate do fogo heliocêntrico

Quando o dia jaz ainda sob o aconchego do leito.

 

 

Passados alguns momentos de deslumbramento,

Acomodo um pouco meu olhar

Sobre a ventura da ótica

Que repousa na cama da urbana roça:

 

 

Meu par de olhos goza o contemplar

Das bananeiras, abacates, graviolas;

Mangas, mamões, limas, limões, laranjas, cenouras, abóboras;

Mandiocas, cocos, inhames, batatas-doces, acerolas!

 

 

No entanto, é o céu que me enleva e arrebata:

O albino azul que me afoga;

As nuvens pairando plácidas;

No ventre, posso vislumbrar a linha do horizonte e ás abóbadas agigantadas.

 

 

Afinal, ao regressar da dimensão do divagar,

Sinto-me como tivesse levitado

A bordo da nave do profundo pensar:

Agora, a poesia, em mim, eclode, recrudesce, é contínuo jorro de avatar!

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

COMEDORES DE SOBRAS

15-02-2010 12:26

 

 

                                              

 

 

No penúltimo halo da antemanhã,

Pessoas saem de seu humilde viveiro

Para buscar o combustível do corpo

Em um quase longínquo desterro.

 

 

E, ao chegar a seu destino,

            A feira,

Esperam pacientemente

O ocaso da efervescência

Da harmonia desarmônica

Dos sóis de quem vende e de quem compra.

 

 

 

Então, quando advém a hora ansiada,

Afluem sôfregas ao encontro do tapete

De frutas, legumes e verduras

        Que cobre o chão

Onde, sob os afagos rudes do dia-a-dia,

Rodas, sapatos, pés desnudos ou de sandálias

Apressada e inescrupulosamente pisam.

 

 

Ah, e como a fome delas

               É canina e ao mesmo tempo conformista:

Um ancião desempregado

Amaina o vácuo em sua barriga

Com uma suculenta manga dormida.

Ah, quando alguém se depara

Com a horrenda fronte da fome

 ------ Sentada no trono de sua opulência ferina ------

Deslinda que o nojo é luxo;

Não uma alameda a ser seguida.

 

 

 

Algumas, ao regressar a seu ninho,

Comutam refugo em lucro:

O que na feira era lixo;

Na carente vila de casebres

É auspicioso fruto rentável, celeste, divino.

 

 

 

 

No entanto, para a hoste de grisalhas

Barbas engravatadas e garbosas,

Este paraíso da lídima e visceral miséria

É nada mais que um moribundo resquício

De seu passado sem rosas e azaleias.

 

 

Não, mas estas pessoas:

Estas pessoas sabem

Que a miséria cintila até o ponto

Em que assoma a dor nas vistas;

Que ela é viva, concreta, fenece, fere,

Queima e alucina.

E ela o faz de inúmeras maneiras:

Maneiras que a mais poderosa verve

Nunca sequer imagina.

 

 

Sim, todavia alheias aos mais atrozes sofismas,

Elas prosseguem crentes na vida:

Sempre a segurar a ponta do rabo

Daquilo que crêem ser a esperança,

Apesar do crepúsculo, das mazelas,

Das chagas em abundância,

Da dor, da amargura e da desabonança!

Enfim, elas prosseguem,

Mesmo com o mar infinito de desamor,

De inclemência, da ausência de ternura

E do culto da sentimental distância.  

Sim, estas belas pessoas continuam a hastear,

Embora não saibam,

O estandarte do vislumbre de uma vindoura era magnânima.

  

 JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A ASSASSINADA ALAMEDA DA PAZ

15-02-2010 12:24

 

 

         

 

 

 

Uma estreita faixa de terra

É a senha para uma insana

E sangrenta guerra.

 

 

Uma estreita faixa de terra

Apreende, fustiga, coagula

Dois infinitos Rios opulentos de cultura

Que o ódio segrega, fere, lancina, macula!

 

 

 

Uma estreita faixa de terra

Transmuda antigas presas

De dantescas, hediondas

E gasosas sepulturas

Em magos da fotossíntese da era medúsica.

 

 

Uma estreita faixa de terra

Operou uma metamorfose:

Comutou a telúrica pátria,

Vestida da indumentária da vangloria,

Em destinos errantes

Ou velada, curda, insone cercania,

Povo sem nenhuma alvenaria!

 

 

Uma estreita faixa de terra,

Ao criar diretrizes, dínamos, vetores para o caos,

Fez de desesperados e raivosos apátridas

Guerrilhas que veem, na religião

Ou na provocada morte,

A mais poderosa e oportuna locomotiva

Para o lucrativo bélico lob.

 

 

 

 

Uma estreita faixa de terra                                                     

Um lugar onde a flora do respeito não prospera

Uma seara em que há pretéritas eras morrera o trigo da razão

Uma plaga adorada, filha do Meso-Oriente Tapete-Sultão,

Onde o dogma do ódio soberanamente impera, é eterno furacão!

 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

EU DESEJO UMA VIAGEM SERENA Á MINHA AVÓ

12-02-2010 12:32

 

 

                     (EM MEMÓRIA DE BEATRIZ BARBOSA MENEZES,

                 MINHA AVÓ BEATA)

 

 

Caso haja chegado o momento,

Eu desejo que a senhora parta serena e sem padecimento:

Impiedosa, a vida já lhe impôs

Muitos flagelos e descontentamentos.

 

 

Como fora abnegada:

Privava-se dos alimentos

Para que a seus filhos

Não faltasse nada. 

 

 

Como fora abnegada:

Com a muralha do pesar

Sobre suas costas,

Por ter perdido sua primogênita

Princesa de Ébano,

Ajudara a cuidar da prole desta,

Recebendo como recompensa

A rosa da ingratidão

Mais seca, mais perniciosa e mais pérfida!

 

 

Amara hermeticamente

Habitantes do planeta dos vórtices violentos:

Um prisioneiro da bebida

E um escravo do ígneo temperamento;

Perdera-os para seus destinos turbulentos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sempre tivera de trilhar a alameda de Caetana:

Testmunhara o crepuscular da luz dos pais;

O crepuscular da luz dos seus irmãos;

O crepuscular da luz da sua primeira filha;

Encontrando na mais nova

A estrada para uma existência,

Apesar das dolências emocional e física,

Um pouco mais duradoura, leniente, tranquila!

 

 

Aqui, sentado sobre o divã dos meus pensamentos,

Contemplo a constelação das estrelas

Da glória, da imponência, da grandeza e do orgulho

Pairarem sobre o seu firmamento de sentinela da labuta:

A quituteira, a lavadeira, a engomadeira,

A fibrosa e teimosa mulher guerreira,

Todas a formar o mais majestoso sol da decência. 

 

 

 

Caso haja chegado o momento,

Vá serena e em paz,

Filha da nação dos bantos.

Vá em paz e serena,

Minha Jóia Pequena!

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O NIRVANA DA BRASILEIRA POESIA

12-02-2010 12:12

 

                  

 

Os fogos estouram no mar.

Os fogos estouram em terra. 

Os fogos estouram no ar

Os fogos estouram á beça!

 

 

Os fogos estouram na roça.

Os fogos estouram em plena selva de pedra.

Os fogos estouram ao redor e frontalmente ás modernas casas modestas.

Os fogos, a erupção do vulcão Etna!

 

 

 

Os fogos gostam de me lancinar sem trégua.

Os fogos põem-me alerta.

Os fogos são um drama por demais prolífico e rotundo.

Os fogos descortinam o calabouço onde moram minhas feras!

 

 

Os fogos açaimam o remanso.

Os fogos, apoteose maior das Juninas Festas!

Os fogos celebram a transição dos anos.

Os fogos, estafetas da Guerra por Poder de Impérios pelo Oriente Mundo

               E, aqui, nas Tropicais Favelas!

 

 

 

Os fogos borrifam alegria sobre a face entristecida.

Os fogos orvalham o cosmo de mil fantasias.

Os fogos alimentam fogueiras, amores, a sertaneja felicidade nordestina.

Os fogos, O NIRVANA DA BRASILEIRA POESIA!

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

PAISAGENS ONÍRICAS

11-02-2010 12:19

 

 

                                       

 

Sonho que pincelo

--- sobre a tela das favelas ---

A consciência da tropical aquarela.

 

 

Sonho que borrifo

--- sobre o matinal canto dos pássaros ---

O rio Amazonas e todo o patrimônio oceânico da Terra.

 

 

Sonho que sou a procela

Qual voa bailando pelas atmosféricas

Passarelas da mádida primavera.

 

 

Sonho com a materialização do desejo

De solfejar hinos que revelem

O verdadeiro combustível

Qual nutre o oxigênio

Das execráveis e nobres guerras.

 

 

Sonho que o Povo

Toma a definitiva posse

Das rédeas da sua oprimida sorte.

 

 

Sonho que manejo um telescópio gigante

E descubro o tesouro

Guardião da luminescência

Das estrelas que vagueiam

Sobre e além do universo soberano.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

MARISQUEIRAS

11-02-2010 12:16

 

 

                                              

 

Quase no limiar da manhã,

Sofredores semblantes de mulheres denodadas

Partem de suas calorosas vivendas infaustas

Rumo ao encontro de mais um árido dia de lavra.

 

 

E que lavra dura, pesada, prolífico jardim de sáfaras:

Colher no Atlântico mar da Goiânia pernambucana

Pérolas culinárias que hão de extasiar o paladar

Daqueles providos de algibeiras

Parcamente ou demasiadamente

Magnânimas, exuberantes cataratas do Iguaçu e do Niágara,

Imponentes cordilheiras dos Andes e do Himalaia!

 

 

Ah, o quinhão que recebem

É torpe, infame, aluvião de vexames nada breves:

Uma ignóbil monção de atrozes intempéries ultrajantes

Que as afoga no sádico oceano de dores

Oclusas no reino do pranto exangue,

Salpicadas de alamedas da piedade serelepe e incessante.

No entanto suplantam a humilhação

Com o fulgor da aura da dignidade,

Que aflora da imagem de suas nordestinas cabeças,

Levantadas ao girassol-firmamento em amplidão na verdade.

 

 

 

Sim, e lá vão elas, as catadoras de mariscos,

Com seus filhos lhes fazendo companhia,

Depois de um dia pejado de faina cansativa

E humilde dinheiro na palma das mãos,

Voltar, finalmente, para o aconchego

De seu exíguo e íntimo torrão.

 

 

 

Jessé Barbosa de Oliveira

 

IMITAÇÃO DE UM QUASE SONETO PSICODÉLICO

11-02-2010 12:06

 

 

      

 

 

O cérebro anseia, engendra ideias

As ideias erigem as mentosféricas alvenarias da palavra

A palavra, na forma de oração absoluta, composta,

Amada cria cálida da galáxia sintática,

Quer ser escrita e virar a perpétua trova reverberada.

 

 

O corpo almeja-se fundir ao cansaço:

A mente que açaima o viço do obstáculo

Sonha gravitar pela órbita                                                      

Onde habita o insone lírico perpasso.

 

 

Deleito-me com a refulgência que urina em cima da verve puritana, avara

Testemunho a decência que cede ao escárnio

A política é um grandiloquente panegírico ao parasítico e vampírico Teatro.

 

 

E esta poesia de hemorróidas, de placebo, de chacina da alegria

E esta chaga chapada, pustulenta na qual a dor nunca definha

E esta coriza que não cessa de verter-me das congestionadas narinas...

 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FREE SOUND

11-02-2010 12:01

 

 

                                            

 

 

 

O regue-raiz me fascina:

Ele injeta o soro da consciência

Na flagelada e severina vida-correria.

 

 

O regue-raiz anseia

Que a negritude tenha

Audição, compreensão,

Coragem, amor, identidade,

Sede, centelha, seiva, sageza

E sangue quente correndo

Pelas sodomizadas veias

Para lutar contra a sina

De sermos mastros

Sem direito á soberana bandeira

Da abolição verdadeira.

 

 

O regue-raiz canta

A dor, a saudade, a teima

De sonharmos com a liberdade contemporânea

Afagando as nossas bochechas,

Têmpera, tez, corpo, a vontade em chamas!

 

 

O regue-raiz, afinal,

Quer que nos tornemos

Submarinos, navios,

Veleiros e barcos á vela

Quais transformem o mar

Ressequido do nosso destino

Num dos mais caudalosos

Indômitos oceanos da Terra.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DESCONSTRUÇÃO

10-02-2010 13:04

 

 

                               

 

 

 

Imerso no magnetismo do colchão,

Perco-me numa neblina de sonhos, miragens e vãs divagações.

Quando acordo,

Possuo apenas um poema

 

 

De índole vácua:

E sua teia é navalha

Que o corcel da mente escalavra,

Lancina e mata.

 

 

Seu legado é o soçobrar do fluído verbo.

Seu legado é a afasia do produtivo fazer poético.

Seu legado é a elisão do penetrante, sábio e facundo verso!

 

 

Assim, o que resta é um poetar sem eco, povo nem reflexo.

O que resta é um poetar sem alvenaria, alicerce, paredes e teto.

O que resta é um poetar com malária, chagásico, asceta, Acético! 

 

 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CARROS

10-02-2010 13:01

 

 

      

 

Os automóveis antigamente corriam palmo a palmo

Não se discernia a superioridade entre eles

Hoje há um grande abismo no mundo automotivo

Hoje há carros que percorrem rodovias do dinamismo

Hoje há carros a mercê da marcha lenta

Eu faço parte daqueles que estacaram no meio da estrada apenas            

Vejo os carros da minha vista se diluírem feito chuva passageira

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

AQUARELAS DE MIM

10-02-2010 12:57

 

 

                                                 

Erijo monólitos de mim quando escrevo

Erijo exílios em mim quando escrevo

Erijo céticas catedrais de paz em mim quando escrevo

Erijo no chão de cimento da minha verve

Girassóis do mágico vento quando escrevo.

 

 

Faço do silêncio interno

A mais fragorosa música quando eu escrevo

Faço da crédula e velhaca ressonância dos

Corais de zagais modernos

Estro para revelar o sabor malsão de seu mel malévolo

Quando escrevo.

 

 

Pincelo alcovas para o vácuo dormir comigo

Quando escrevo.

Pincelo AKs-47 para soçobrar os majestosos castelos da demagoga e harpíaca

Eloquência quando escrevo.

Pincelo uma miríade de pernas sôfregas por cosmopolismo

Quando eu escrevo.

Pincelo heterônimos bidimensionais

Quando escrevo.

Degusto o sol da catarse

Ao pincelar a mim mesmo quando escrevo.

 

 

Sou disco bicromático quando escrevo.

Sou relva, revoada e guepardo quando escrevo.

Sou faca cega, lâmina de dois gumes e pedra lascada quando escrevo.

Sou água-viva, letargia e águia quando escrevo.

Sou aquarela sem pais, aquarela sem limiar e aquarela sem medo.

Afinal, quando eu escrevo,

Sou aquarela inerme, aquarela do caos, aquarela indigente:

Sem nome, sem baile, sem lápide, sem brumas ou testamento!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A ESTAÇÃO ABSOLUTA

10-02-2010 12:54

 

 

                   

 

 

 

A espera teve seu cobro,

Porque os matizes da rarefação

Habitam-me a mente

E copulam o meu corpo.

 

 

Tenho a leda, refrigerante e vívida sensação

De que posso flutuar qual uma pena:

Floresço como filho da ubiquidade

Pois me transmudo no hialino corcel negro

Que cavalga pelas enigmáticas e copiosas

Alamedas da esconsa face do firmamento,

Onde ascendo ao trono de escudeiro da onipresença.

Ah, ao assumir a forma do vento,

Incorporo a sua mais etérea essência!

 

 

Creio olhar as paisagens da consciência

Com plástica, total mas também sóbria clareza:

Impressiona-me como a sensibilidade,

Livre das amarras da ferina indulgência,

Faz-nos mirar, fixamente,

Nos furtivos olhos da malevolência.

 

 

No entanto, este ainda não é o crepúsculo

Da minha odisseia:

Ao ter o ensejo de prospectar

O fundo dos olhos da sádica Quimera,

Penetro-lhe no âmago da caverna,

Lugar no qual contemplo a fronte da hipocrisia:

Imagem abjeta! Abjeta! Ojeriza!

 

 

Afinal, sinto-me em paz comigo mesmo.                                   

Entretanto a paz com o mundo

É uma atroz miragem que reina

Além das nossas humildes e impotentes vistas,

Confinadas, eternamente,

 No éden dos desterros;

Uma imensurável chaga aberta

Pelos prisioneiros da inesgotável

Síndrome da cobiça, da indomada ambição,

Do maléfico e insidioso desejo!

 

 

Ah, todavia, sou

O amálgama do correr

Do guepardo e da gazela:

Apesar das intempéries de tristeza,

Que me lancinam e me laceram a mentosfera,

Durmo sereno, ao menos hoje,

Por estar sob o aconchego

Da plácida nave da Primavera.  

 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

A SEMÂNTICA CAMINHADA DOS PENSAMENTOS

09-02-2010 12:54

 

 

 

 

 

 

A vida é o orfanato da certeza:

Hoje se veste de monarca supremo da onipresença;

Amanhã poderá viver

Como o mais caro patrimônio da ausência.

 

 

Lembranças vagam mortas pela cabeça:

Nem mesmo poemas

Conseguem capturar a sua arcana seiva.

 

 

Migalhas são ofertadas

Com ares de bonança:

E assim, a camuflagem da sarjeta

Põe em coma o renitente sol da mudança.

 

 

A liberdade são veleiros camaliônicos

Que tentam fugir da tirania:

Seus discípulos incondicionalmente a perseguem

Ainda que morram de anorexia.

 

 

 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

A SOFREGUIDÃO DO NÃO-POETA

09-02-2010 12:53

 

 

                             

 

Quero ser um artesão de palavras:

Duras, dúcteis, viscosas, herméticas,

Diáfanas, sinceras, profundas, singelas, iluminadas.

Eu quero é ser poeta

Pois este erige contínuas miríades de estrelas

Sobre o céu de eternas noites enluaradas!

 

 

Quero poder afluir,

Quando me der na telha,

Ao feérico lago da espontânea

Língua do povo:

E, ao libar da sua água,

Expelir-lhe as impurezas,

Que são as chagas, as mazelas,

O carcereiro da igualitária opulência,

Para deixar que viva livremente

O florescer incontinenti

De castelos e mais castelos

Da alacridade e dos felizes sortilégios

Que emanam do eufemismo

Da escrava gente.

 

 

 

Quero degustar

O vinho tinto da galharda palavra

A fim de homenagear a imponência

Que cimenta os mínimos e máximos halos

Da natura realeza.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quero ser condigno

Quero ser acuidade e sageza

Quero ser humildade, vivacidade, gentileza

Quero ser feiúra e esbelteza

Quero ser a inane importância

Quero viver perpetuamente

                                          [ No jucundo reino

                                             De ingenuidade

                                             Das crianças

Quero ser ventania, poesia, proximidade, distância

Quero ser o instante

                                [No qual se encerra o segredo

                                 Da segurança, da solidão, da tristeza,

                                 Do medo, da coragem, da alegria,

                                 Da repreensão, da recompensa, do desejo

Quero ser a imensidão

Quero ser pequeneza

Quero ser a imperfeição em evidência

                                                              [Pois a perfeição

                                                               É um atroz sofisma

                                                               Da humana cabeça

Quero ser a multidão

Quero ser o átrio do sol solitário da certeza

Quero ser a rocha, a rosa, o rouxinol, o girassol, a orquídea, a açucena

Quero ser a ametista, poeta em perene florescência!       

 

 

 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A PROSPECÇÃO DA PAISAGEM

09-02-2010 12:50

 

 

                            

 

Quando deixamos de ser etérea manhã,

Ainda no átrio da estrada,

Tornamo-nos presa

Da fome precoce do inexorável ocaso: 

 

 

A latitude do céu,

Que pensávamos infinita,

Revela-se cria de um universo volátil.

 

 

Ah, e o nosso mar nos mostra

A sua lídima índole:

A ferocidade do vórtice do ódio

Aflora-lhe do bojo,

Domando progressiva

E plenamente

Todo o seu aqualino corpo.

 

 

A terra,

Que compõe a nossa pele,

Liquefaz-se em córregos do pus

Incarcomível:

A chaga se transforma

Em um novo tegumento,

Agora, irremovível!

 

 

Então o que reina

É uma paisagem de água:

Empedernida, rocha insoçobrável,

Mármore entalhado no oceano da passional sáfara.

 

 

 

 JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

QUANDO A ÚLTIMA PÉTALA DA VIDA CAIR-ME

08-02-2010 12:47

 

  

                      

 

Como serei quando a última pétala da vida cair-me.

Um humano relicário de biles e vazios

Ou talvez um pescador de álacres auréolas

Por ter singrado trôpega, altiva e exitosamente

As agruras que salpicam copiosamente

As alamedas do meu caminho...

 

 

 

Como estarei quando a última pétala da vida cair-me.

Cintado de filosofais comensais e estáticos amigos eremitas

Ou no aconchego do tálamo,

Que compartilho com a Ondina do lago de lancinantes lágrimas caladas...

 

 

Quando a última pétala da vida cair-me,

Estarei vagando misantropo pela órbita de uma longevidade opaca

Ou será que serei despojado sem indulgência do seio da crisálida...

 

 

Todavia, embora trancafiado na masmorra da bruma de dolentes contingências,

Carrego comigo o mais valioso mineral de minha consciência:

A certeza de que, quando a última pétala da vida me cair,

Crepuscularei como mais um trôpego que caminha pelo itnerário

Interminável e magnânimo da Poesia.

 

  

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

DELÍRIO SEM MOTIVO APARENTE

08-02-2010 12:42

 

 

                      

 

Centelhas e luzernas prolíficas

Andaluzam imponentes canções lascivas.

 

 

O sol irradia

Ogivas de miséria, banzo, amor, alegria

Sobre os poros que umedecem a janela d’alma da vida.       

 

 

Brumas do assíduo precipício

Colonizam-me a ermida

Das caras utopias.

 

 

Ergo jardins botânicos da viscosa manhã de esperanças

Sobre a imensurável estrada renitente

Das minhas mentais móbiles-errâncias.  

 

 

Temeridade, padecimento e sageza

Deambulam --- de mãos dadas ---

Pelos parques, avenidas,

Becos, países, congostas ou sinuosas vias

Do loquaz silêncio que habita

O casarão das vivências incontavelmente vividas. 

 

 

Ah,

Reinos da lírica distância,

Vocês são artesãos

Que modelam a massa das ilusões

E das lembranças!

 

 

Ah, sambódromos do sentimento,

São senhores e artífices que erigem

Castelos de alvenaria da amorosa razão,

Infelizmente oxidados e demolidos

Pelo salitre do MAR-TEMPO-LIMÃO!

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

Itens: 1 - 30 de 53
1 | 2 >>