OLÁ, MEU NOME É JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA:
ESPERO QUE FIQUEM Á VONTADE NESTA MODESTA NAU POÉTICA. ESTEJAM EM CASA!
BIBLIOTECA NACIONAL, SITUADA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E SE ENCONTRAM SOB A PROTEÇÃO DA LEI
DOS DIREITOS AUTORAIS N° 9.610/98
ÉDEN DA ESPERANÇA
Olho de soslaio
Para o vácuo,
Impresso sobre o azulino céu diáfano:
Sinto a realeza das nuvens
Afagar a retina dos pensamentos,
Anteriormente atrelados
Á rede de pesca do marasmo.
A Imagética que esta nave
De espessas teias albinas suscita
Leva a imaginação além das mentais fronteiras conhecidas,
Quais --- pseudamente --- circunscrevem as malhas que compõem
O enigmático horizonte-espaço-via.
Então, apesar da melancolia
que engravida a vida citadina,
realimento a janela d’alma minha
com o soro da altiva Alegria.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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UTOPIA MOVEDIÇA
Eu quisera um reino de girassóis:
A semeadura da labuta e sonhos
Colhendo o pólen do amanhã.
Eu quisera um reino de girassóis:
Contudo, de inicio, descobri
Ser necessário me despir
Da aura do voo do albatroz,
Pois a empreitada da Esperança
E de se fazer eterno Verão, Primavera, Bonança
Demanda a ação coesa, compacta
Do voar dos pássaros em revoada.
Eu quisera um reino de girassóis:
Arar a humana terra, nutri-la, umedecê-la
Com o H2O da Revolução Leonina, Escarlate e Serena!
Eu quisera um reino de girassóis:
Poder testemunhar
A Flora da equanimidade, altruísmo, nobreza
Vicejar, radiosa e triunfante, de nossas Cabeças.
Eu quisera um reino de girassóis,
Mas compreendi que o ópio das migalhas,
Dissolvido no ácido cotidiano das almas,
Mutilara o desejo de indômita ventania
Que habita a Sapiens massa encefálica, abrasiva!
Eu quisera um reino de girassóis:
Fiquei apenas com o gosto
Marmóreo e amargo de túmulo na boca,
Sequiosa pela chegada da Era ensolarada.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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A LIRA DO ALBATROZ
O albatroz albatroza...
O albatroz albaflora...
O albatroz albavoa...
O albatroz albagoza...
O albatroz albacaça...
O albatroz albamata...
O albatroz, a albarrara:
O albatroz ama somente uma única alma!
O albatroz albamedra...
O albatroz albaimpera...
O albatroz albavela...
O albatroz, a albafera:
O albatroz --- pelo azul da atmosfera ---
Solitariamente navega!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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TERRA-MATRIZ
Horizontes de padecimento e migalha
Cobrem de ferrugem
A usina da esperança incendiária:
As progressivas nuvens corpulentas do abandono
--- ao derramar a ácida peçonha do sepulcro do sonho
Sobre a equatorial e atlântica Nação-Melanina,
Muito embora não consiga secar, de todo, o córrego da alegria ---
Entorpece-lhe o sangue da autoestima.
O dissabor, a amargura e a cobiça
São gigantescas piranhas famintas:
Daninhas Ervas Boreais plantam
Suas sementes atiçadoras da ira
No solo de fraternais famílias
Para que floresça prolífica
A eterna dinastia das dantescas florestas de carnificina!
Ah, materna África minha,
Não bastasse
Terem pilhado de ti
O reino dos marfins, esmeraldas e diamantes da fibra;
Infectam-te com o vírus do caos
E a tornam aurífera joia suicida:
A belicosa locomotiva lucrativa!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
A POEM TO BOB DYLAN
Versos líricos que ecoam a animosa flora do protesto
Versos filosóficos que transformam em indômito oceano
O brutal mental deserto.
Versos que acordam o vulcão da sábia rebeldia
Versos que --- ao esbofetear a fronte da hipocrisia ---
Fissuram os pilares da tirania
Versos que libertam a lívida juventude cativa.
Versos que amam o livre amor
Versos que anseiam a psicodelia residida na flor
Versos que o mor poeta do folk
Em nós viçosamente poleniza
Depois de magistralmente OS compor
Com a ajuda da sua gaita
Ou do possante violão da revoltosa melodia.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
O HOMEM-MICTÓRIO
Um homem deitado.
Um homem caído.
Um homem estuprado em sua dignidade:
[As pessoas olham-no como tegumento de detrito!
Um homem cujo rosto é chafariz
Jorrando o soro de tom escarlate,
Rubro vivo!
Um homem parece estar sepulcralmente calado.
Um homem é convertido
--- por quem pelo quase escuro da rua transita ---
Numa latrina prenhe de urina!
Um homem --- guardado pela manta do
Silêncio-cadáver ---
É Vivenda da Estática Energia.
Um homem que repousava
No túmulo do movimento
Regressa ao pulso ativo da vida!
Um homem,
A noite alta:
O Perfume da Amoníaca Fedentina o ar encharca]
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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O SORO DA MALDADE
Picada em doses sucintas.
Alfinete comutado em peçonha assassina.
Dor e supernova que se demoram
Na rotineiramente contínua
Roda-Viva da vida.
E a Boreal Cobra Coral
Que ostenta na língua
A parasítica lâmina opressiva
Plenamente se deleita,
Jantando sadicamente a sua Presa.
Ademais,
Só nos espera
O amanhecer da esperança que se arruína,
As sentinelas que se alimentam
Do mel qual jorra da colmeia tremeluzida
Ao matarem um leão por dia
Além da própria
Boreal
Cobra
Coral da riqueza mesquinha
Que come o sofisma da Paz
E o maná da fotossíntese produzida
Pela Cativa Companhia
De Tolhidas Máquinas Líricas!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
MARAVILHOSO DIRIGÍVEL FÁLICO
Amaria ser úbere
E me metamorfosear num panteão:
Provar o sabor de me tornar púbere
E --- ao mesmo tempo ---
Vivenciar a proeza
Da odisseia de um embrião.
Semearem-me como semente,
Irrompendo popular estadão:
Os sonhos nunca morrem
Embora sejam --- na maior
Parte das vezes ---
Astros Vãos!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
A SINFONIA DOS PENSAMENTOS ORGÂNICOS
A saliva naufraga na superfície da garganta.
O eco se afoga no mar da palidez cadavérica
Que subjuga o semblante abatido da esperança.
Doridas manhãs e angustiantes distâncias
Afloram sobre o chão do fluxo das lembranças.
O sol destranca a Poesia das paisagens averbalizadas.
A tarde que se assenta represa e descerra
A efusão das mágoas guardadas.
A lua nos emprenha de claridade sensata
Para podermos contemplar
A miséria e a beleza da humanidade á lepra condenada.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
VIAJANDO NA VIAGEM...
Portão enclausurado
Brisa empalada por chaveiro
A lira erudita é a filosofia
Do estéril cancioneiro
Quero amanhecer a luminescência do ensejo
Adormecer sob o aconchego do mundano seio
Oceanos da paz desejo
Solfejar cânticos de Ioruba no terreiro
Penso em deslizar por desfiladeiros
Acossar insanamente o desterro
Naufragar minha coragem nos mares do desassossego
Encharcar a minha mente
De Raul Seixas
Ao entrar em êxtase
Por beber vinho seco
Sou o beijo que beija a todos e a si mesmo
Favelas incessantemente recrudescendo
Faca cortando o tédio e o engarrafamento
Lança lançando o lamento
Faísca faiscando o incêndio
Vento que venta sobre o meu vento
Sinto o sentido sentimento
Morro no morro do momento
Produzo o pão do penoso pensamento
Ando azulejando aragens
Passo o passado da passagem
Vivo viajando na viagem
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
A ODISSEIA DOS ÓRFÃOS
A lágrima que se transforma
Na foz da saudade perpetuada.
O sentimento que ultrapassa
A progressiva miríade infinita
De espaciais galáxias.
A alegria que converge
Á alameda da vida duma efeméride ávida.
A falta que faz da espera
A mágoa ulcerada.
Pessoas-Crisálida, aprisionadas
Ao estado vegetativo da sina subordinada.
A Equação da Paz
Que, após suplantar a longa e obliqua estrada,
Sadicamente não chega á solução exata.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
A CAMINHO DA QUEDA
O abismo abscondido nos pensamentos
Engole a força de vontade,
Os vocábulos, a torrente dos caleidoscópicos sentimentos:
Tingidos de malsã calmaria e selvagens arrebóis de placebo!
O abismo formatando-se como pirâmide-metástase
Amaldiçoa, contamina, animaliza e escalavra
Toda a sociedade, que hasteia a bandeira
De espécie dos primatas mais augusta e avançada.
O abismo coagula a angústia:
Provoca terremotos, maremotos,
Vórtices, vulcões, rupturas
No sistema de comando da pessoa.
O abismo é malária,
a mamba preta ou a naja:
a dengue clássica que se torna hemorrágica!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
A LIRA DO SEPULCRO PREMATURO
O colapso da cor dos olhos.
O vermelho defluindo da boca
Como filamentos grossos.
A juventude encontrando
A imorredoura tumba,
Ainda na aurora da sua jornada-ventura.
No entanto
Este túmulo precoce
Não açaima a prole da mocidade:
As jovens flores
Que não se entregam á ciranda do banzo
Brados por liberdade
Continuam vociferando.
E por lá estes hinos soberanos vão se propagando:
Seja pelas ruas da outrora rica Mesopotâmia,
Seja pelas avenidas da África Subsaariana,
Seja pelas esquinas, praças e alamedas do mundo
Em que a paz é tratada onipresentemente
Consoante um precioso manipanso!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
VIAGEM AO CENTRO DO MEU CORAÇÃO
O quão gostaria de ser indiferente
Ao meu coração Atlântico e masoquista:
Emotiva tempestade oceânica
Que me domina, deixando
A temeridade ganhar substância
Para depois, de maneira imperativa,
Singrar toda a estrada da minha sina
Como se fosse a inexorável, vampírica
Csarina, A Grande Catarina!
Conforme uma febre irascível, raivosa,
O passionalismo, em mim, aflora:
Portanto, os assentes pilares da prudência
Comutam-se na mais moribunda geleira.
Assim, ao simples desabrochar
Dos olhos da aurora,
A sensatez cai morta
E descerra as comportas
Para a plena vazão
Da vontade indômita, furiosa!
Então, levianamente,
As palavras pululam
Do cérebro, convergindo
Célere e torrencialmente
Á malograda boca, impertinente.
A sinceridade dá o tom da retórica:
Os vocábulos grossa e sumariamente quedam
Tal um toró de chuva
Que rebenta do celeste ventre
Da soteroplitana primavera.
Afinal
Falo quando ela declara
Seu amor a outrem:
Sim, infelizmente,
Foi no momento adverso
Que os meus lábios de epicédio
Abriram o gás do verbo.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
O VOO-ODE
Eu, a vela, a nau...
Eu, a jornada, a jangada, o jogral...
Eu, as estrelas, a estrada, os estafetas, o estendal...
Eu, a balsa, a valsa, a vala, o caos, a vazante, o vau...
Eu, a seca, a perda, a eira nem beira, a geleira, o fel, a treta, a majestade do sal...
Eu, o berro, a boca, a bomba, a fraga, a flauta, a falta, a sede, o embornal...
Eu, a guerra, a TERRA, a brasa, a cratera, A PRAÇA CELESTIAL...
Eu, a viela, a berinjela, a barrela, a vinícola, a Imagética, o parreiral...
Eu, o silêncio, a mesquita, a catedral, o concreto, a moreia, a Paz, A Pá de Cal...
Eu, o poema, a cadela, os pirilampos da favela, a cena, a marola, o plenilúnio do sol...
Eu, a Caatinga, Ipanema, o mar da Bahia, a poética aridez Cabralina, o Manguezal...
Eu, a ébana lida, Xangô, Tereza Batista, O Sambista, O PAÍS DO CARNAVAL...
Eu, a laje batida, a gata lasciva, o baba dominical...
Eu, o vento, a ventania, o tempo, o outro lado da Física, a ânsia gutural...
Eu, Lião, Policarpo Quaresma, Lea, A Miragem Vil-Metal...
Eu, Luísa Main e Zeferina, Zumbi, João de Deus, Lucas Lira, O Livre Líquido
Mineral...
Eu, Marighella, Che Guevara, Lamarca, Panteão do Araguaia, REVOLUÇÃO,
O Saber de Karl, A INTERNACIONAL...
Eu, Mandela, Malcolm X, Martin Lutter King, O Incolor Sonho Imortal...
Eu, Alegria-Alegria, A Palo Seco, Refazenda, Asa BrAnCA, Milagreiro,
Roda-Viva, Ideologia, Maria-Maria, A Mosca Na Sopa,
O Bêbado E O Equilibrista, Marina, Campo de Batalha e Malandrinha,
O Vento No Litoral...
Eu, o avesso do avesso, o verso, o verbo, a sedução do realejo,
A Comédia acontecendo, o Drama de não se conhecer a si mesmo,
Ocasos, orgasmos, beijos, canaviais, carvoarias, lagrimas efusivas,
A Vida Afinal!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
REFLEXÕES ALTIVAGANTES
Pensar calado e absorvente.
Zarpar pelas oceânicas paisagens ácidas
Que mutilam a alterosa utopia recorrentemente.
Singrar caminhos que massageiem o êxtase da mente.
Nutrir sequiosamente o sonho renitente
De abrir --- para sempre ---
Os umbrais da vontade consciente,
Fechados hermeticamente
Na tumular encefaloesfera
Onde reside a oprimida gente:
A enjaulada lancinada fera!
Afinal,
Fazer da prosa dos pensamentos
Poesia quando --- no caderno
Ou no espaço cibernético ---
Sedentamente escrevo
O que flui pela infinita aquarela
De conexões do meu cérebro.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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O CERÂMICO GUARDADOR DE PAISAGENS NORDESTINAS
(EM MEMÓRIA DE MESTRE VITALINO)
Um grande homem do povo,
Semente nascida da acre terra bucólica,
Floresce, novamente, ao ser preso
Pelas malhas do sortilégio da cerâmica:
Opulento universo da prolífica verve prodigiosa, epifânica!
Da carne desta mágica argila,
Pulula um cosmo
Que dá loquacidade, eloquência, garbo e encanto
Á estóica vida no nordestino campo:
Os carros de bois em caravana;
A contenda dos amantes conjugais
No exíguo aconchego da sua adôbica cabana;
Os cangaceiros paramentados
Como a realeza do fogo sepulcral;
A Igreja, o santuário da fé imortal;
A gente sofrida, templo da incansável esperança!
Afinal a humilde nação do semi-arido:
Reino dos sábios gigantes,
Forjados pelo metal do contínuo drama insuplantável;
A serena gana de ter direito á vida. Esta gana os agiganta,
Torna-os a indelével chama magnífica!
E então, o artífice
Á rude paisagem sublima:
O olor do cotidiano da faina campestre
Se eterniza, eiva a mente e a visão
Dos presunçosos ignaros
Que desdenham a grandeza
Da laboriosa estirpe do Nordestino Sertão:
Incessante florescência da animosa
Flora tenaz, incarcomível, insoçobrável!
Ah, maestria, ah vitalidade!
Vitalina é a centelha
Que lhe alimenta
A frondosa árvore da criatividade.
Ah, etéreo mago fantástico!
Ah, genial alquimista do barro!
Sua mente, na verdade,
É um cinético vulcão de avatar
Que, ao entrar em erupção,
Transforma o deserto da nossa visão
Em verdejantes bosques de sensibilidade e lirismo.
Enfim, tocados por sua mágica,
Começamos a contemplar a beleza
Cujo perfume, que aprisiona
O organismo, o corpo, a retina e a órbita
Do palato, da audição e do olfato dos olhos,
Molda, norteia e afaga
Os passos da prole do éden da sáfara.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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TOADA DO REMANSO NA TEMPESTADE
I
A marola do tempo
Faz suas vítimas.
A marola do tempo
Naufraga a fome dos idealistas.
A marola do tempo
Cancera a esperança.
A marola do tempo
Dirime a soma.
A marola do tempo
Desdenha a partilha e a janta.
A marola do tempo
Entorpece a vontade que se agiganta.
II
A marola do tempo
É um fermento de fel recrudescendo.
A marola do tempo
Edifica cemitérios do desejo.
A marola do tempo
Logra a juventude.
A marola do tempo
Carcome o lume.
A marola do tempo
Cavalga pelas órbitas e platôs da mente.
A marola do tempo
Veste de humildade e de fé o ego das sábias gentes.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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POESIA AO ACASO
Contemplo o sol.
Canto ao vento.
Sinto --- agindo sobre mim ---
O galopar do tempo.
Cheiro a sal do mar.
Sou testamento.
Por horas a fio,
Sentado no chão do silêncio,
Confabulo com meus pensamentos.
Na pista da vida, vivo sempre em movimento.
Na rima do mundo,
Comporto-me como quem seja
Um poeta a meio passo da ribanceira.
Mas então,
Escuto o perfume da alegria
Sapatear pelas narinas do meu desejo:
Assim, aos poucos,
A flora e a água
Se amalgamam com a fauna da imaginação,
Parindo um poema livre,
Leve, elástico, elétrico,
O mais jocoso trovão intrépido!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
LIRA PARA ALVORECER A ALVORADA
Escuto o silêncio
Dizer á madrugada
Que se prolongue nos invernos:
Ah,
Enquanto esta ordem-conselho
Se processa na mente do tempo,
Cavalga por todo o meu cérebro
O viscoso e insólito pensamento
De que seja o basáltico céu empalidecido
A perfeita comunhão entre a elação da beleza
E os sortilégios dum mar capcioso e sombrio.
Escuto o silêncio
Dizer á madrugada
Que se prolongue nos invernos:
Esta miscível atmosfera eclética
De anestesia, Prosa, Poesia,
Onirismo, miasmas, niilismo, corvo, frescura,
Espreita, peçonha, perfídia e coruja
Casamata um reino de desovas, volúpias,
Espermas, esperas, espirais de psicodelia,
Enseada para fugas ou a Política daninha,
Teatro, Baco, vinhas, sangue a cada esquina;
Heróis, concertos de Rock e Operas que reverenciam
A Jazzística Cinética Ventania!
Escuto o silêncio
Dizer á madrugada
Que se prolongue nos invernos:
Capturo as essências da urina,
Da friagem, do orvalho, da orquídea em remanso,
Da groselha e da azaleia de ébano,
Aspergindo-as na página em branco
Do meu corpulento caderno
De Vermelhos Versos Saltimbancos!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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AURORA NO CREPÚSCULO
Supersônico, o vórtice letal está a galope:
Sinto a sua fragrância lancinante
Pairar sobre as redondezas
Do nosso cangote.
Belicosidade e ganância
São seu ultimato,
O mais dantesco aviso prévio:
A senha para convergirmos
Concomitantemente ao mesmo cemitério raso.
Desejo que saibamos
Da universalidade do sol:
Sua majestade brilha para todos,
Não se restringe tão-só
A alguns poucos rouxinóis.
Ah, mas a cegueira
Nos vegetaliza a mente:
Os pensamentos, como
Prole da livre fluência,
Entram em estado de animação suspensa,
Tornando-se permeáveis
Á ruína de tudo o que seja sinfonia
Da autônoma consciência.
Todavia a esperança persiste:
Embora viva mutilada,
Ela sonha que um dia
Tocará o arco-íris,
Transformando-o
Na sua mais cara
E egrégia harpa.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
ODE AO ITABIRANO CARLOS
Poetar mineiramente
Poetar com a simplicidade eloquente
Poetar de pensamento solto
Poetar parindo a ROSA DO POVO.
Poetar o estar no mundo
Poetar reverenciando O ADORÁVEL VAGABUNDO
Poetar fazendo verso com o substantivo próprio RAIMUNDO.
Poetar AS MÃOS DADAS
Poetar A ROSA E A NÁUSEA
Poetar o quão é funda a angústia
Poetar a consciência de que a vida
Anda em contínua fuga.
Poetar a supernova prematura do leiteiro
Poetar o encontro com as pedras no CAMINHO
Poetar o ensimesmar criativo.
Poetar Itabira
Poetar a saudade de uma ERA perdida
Poetar como é BESTA a VIDA.
Poetar a perda de identidade
Poetar o amor maduro e a desumanidade
Poetar sutil e de fogo alto é o poetar de CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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A AQUARELA DA BUSCA
Homem mijando na rua:
A urina exala o aroma
Da amoníaca fedentina madura.
O fulgor do sol,
Qual --- ao meio-dia ---
Se acentua:
Os olhos ardem,
Sem candura,
Ao tentarem divisar
A face, a porosidade, a solar textura!
Deitadas na cama da amorosa úlcera,
Pessoas estão á espera
Do samba que lhes traga a tão sonhada cura.
A Rainha das damas
Ostenta a sua impiedosa postura:
Serdes só meros peões
Entre vis e edazes sanguessugas.
Lua-Cheia, Nova Lua:
Postando-se de pé sobre o meio-fio,
A poética verve locomove-se a pé
E segue o fluxo do rio
Onde a Liberdade sem brumas triunfa!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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QUERERES POÉTICOS
Seduzir o ar com fonemas.
Parir Rosas, Palmas, Pérolas Negras,
Acácias, Esmeraldas, Alfazemas, Açucenas!
Morar eternamente
Na vivenda
Do mais acuidoso Poema!
Inalar o pólen da ausência.
Sentir a ressaca martelar
Pregos de langor e dolência no âmago da cabeça!
Ver o ódio gangrenar:
Confiná-lo,
Para sempre,
No necrotério das maléficas lendas!
Contemplar os oceanos de todas as Américas
E só poder derramar corpulentas lágrimas
Apenas!
Ser poeta,
Ser a água fresca da consciência!
Buscar na vida ---
Que continuamente rebenta ---
A face serena da majestosa
Maternal Natureza!
Ovacionar diariamente a quem ama.
Tocar obcecadamente Legião Urbana.
Hastear bandeiras do altruísmo e da libertária chama
Contra a peçonha da ganância, da tirania, da intolerância!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
Á MARGEM DA EQUAÇÃO DA ALEGRIA
Lá fora,
A chuva molha o asfalto;
Aqui --- dentro de meu peito,
A imensurável savana indomável ---
Sinto-me perpétuo amanhecer calcinado.
Tenho tantas dúvidas
Pesando sobre meus ombros:
Ah, a mente prefere, entretanto,
O elixir da solar primavera
Á indigesta verdade impressa
Nas dolentes páginas gélidas
Do inexorável inverno-escombro.
Quero chegar ao cume
Da montanha dos sonhos:
Pegar seus atóis e espólios
Á mão do arco-íris-estanho,
Convertendo-os em estela de ouro
Ou num esplendoroso sol de titânio.
Todavia,
Quando regresso
Desta tão libertária viagem-gerânio,
Novamente me encontro
Aprisionado em nosso cotidiano-escafandro:
Aí, então,
Eu me readapto
E me rearranjo,
Esperando que um dia talvez
A nossa consciência
Reduza a pó
O cárcere-verdugo
Da sua Fogueira-Soprano,
Tornando-se --- enfim ---
O eterno, libérrimo, belo,
Etéreo e soberano
Pégasus-Oceano!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
COMBALIDA, MAS IMORTAL
Ainda que enferma,
A esperança dardeja:
Os déspotas e vampiros de Crônos
Confinam nossa mente e ânimo
Nas trincheiras cavilosas
Do consumo, do velado abandono
Ou das malhas maliciosas
Do circo contemporâneo.
Mas, apesar das velhacarias
E da miríade de intempéries,
A faculdade de sonhar
--- mesmo que veementemente imbele
Ou de maneira inconscientemente serelepe ---
Faz pulsar teimosamente
O coração da verve.
Ah, a esperança!
Embora seja
Incessantemente mutilada
Por homens-bomba
Da ganância-cornucópia parasitária
E sempre esteja
Deitada sobre o ventre
Dos umbrais da cova;
No último segundo,
Ela se agarra ---
Com rijeza ---
Á mão estendida
Do lençol freático da vida,
Alimentando a vela
Qual torna funesta
A devastadora eloquência
Da canção que regozija os suicidas.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
BEBENDO O MAR DA INSANIDADE
Um gesto coíbe a lágrima:
A glória e a angústia se amalgamam,
Se entrelaçam, se abraçam, se procuram, se misturam,
Se mastigam, se adaptam, se compactam, se fecundam,
Se masturbam e se adicionam hirsutos
Ao sabor dos pensamentos mitômanos, confusos,
Gerando uma insólita & desvairada
Alegria atormentada em relação
Ás aquarelas assenzaladas quais sequestram,
Flagelam ou sepultam
O oceano fluente pelo cérebro á beira
Do abismo profundo.
Ah, pensar também
Que integro o elenco
De reféns desta maré maligna:
Ora como um espectador impotente
Por não poder ser reativo
Quando a peçonha da violência,
Da cobiça e da autocracia
Preda a candura ---- até então,
Mantida incólume ainda, quanto
Á sua alma, á sua lírica arquitetura ---
Pois a consciência sente a dolência
De viver em infinita clausura;
Ora sentindo o amargor
De fruta cítrica
Da amorosa sensaboria
Fazendo malsãs investidas,
Cheias de sedução e aleivosia
Contra a aurora da fantasia
Quando a arte da conquista
Vira planeta em sangria;
Ora completamente imerso
Na piscina labiríntica
Do meu mundo-ego,
Hades onde
Os demônios --- apátridas
Da indulgência e da fidalguia ---
Castram-me o combustível qual alimenta,
De maneira apaixonadamente feroz e fidedigna,
A fogueira ativista contra o império da hidra,
Além de devorar --- tal se fosse
Um cardume celerado
De famintas piranhas assassinas ---
O lume do farol que mantém viva e fortifica
A energia do Corcel da tranquilidade assertiva,
Da solar lira!
Ah, não desejo mais
Que o nosso destino
Caiba --- de modo conciso ---
Na palma da mão
Do vácuo empedernido:
Ao contrário,
Espero incansável
Que a manhã-mor
Do equinócio auspicioso ecloda,
Portando consigo o sol do denodo,
Do arco-íris onde mora o regozijo do sonho,
Da flora, da fauna, da via Láctea do ouro,
Da Poesia que liberta a Mente do Povo!
Mas o império da pedra
Mostra o verdadeiro timoneiro
Do navio da realidade:
Ele ostenta a face
De canções quais assassinam a jocosa tarde
E levam ao templo do abate
O carcereiro da catástrofe.
Então minha rijeza
Vira mármore:
A poesia cuja centelha
Irrompe do Rio São Francisco
Dos meus versos
É catarse trôpega, lôbrega, estéril:
A realeza maior dos tétricos cemitérios!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
CHILDREN OF THE QUIET WATER
O batel zarpa
O batel perpassa
O batel segue o caminho da errática água.
O batel se distancia
O batel se tresmalha
O batel ouve passos do silêncio sobre a errática água.
O batel sente o olor do eflúvio fúnebre
O batel vê crianças virarem berros de cano quente
O batel tenta cerrar os olhos da mente
Quando a cidade de estrelas sem aura
Adere á matéria da errática água.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
A CATARSE NADA POÉTICA
A coriza me invade demasiado Katrina...
A coriza chove sob meu nariz e lancina a minha alegria...
A coriza me suga as forças bem paulatina...
A coriza é vampira, malévola taxidermia, peçonha, viscosa aleivosia...
Ah, a coriza, a coriza,
A coriza transforma-me na mais raivosamente efusiva erupção da ira!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
https://twitter.com/jessebarbosa27
A FORÇA QUE ME PILHA
A órbita reside aqui dentro
A órbita vagueia lá fora
A órbita faz casa no meu vérvico gozo
A órbita --- quando, no amanhecer diário, me rarefaço ---
Vai embora
Melancólica e com muita cólera]
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
A LIRA DA MELANCOLIA
Cantarei neste poema a melancolia:
Um dia testemunhei artífices da terra
Resignarem-se a uma vida sem estrelas e luzernas.
Cantarei neste poema a melancolia:
Os dias e as noites amanheciam,
Mas continuava a tangê-los
A valsa da desvalia, do exíguo vento.
Cantarei neste poema a melancolia:
Nada de seu tinham
A não ser um vácuo cavalgando por dentro da barriga
E, num semblante sulcado, a fome da lida.
Canto, afinal, neste poema a melancolia:
A ausência de sunshine na sina daquela sertaneja gente nordestina
Lancina-me, até hoje, sadicamente as mentais retinas.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
VENTANIAS DA MENTE
Preciso adelgaçar cometas.
Preciso nivelar-me ao celeste azul.
Preciso ler Manuel Bandeira.
Preciso ouvir As Rosas Não Falam, Free Jazz e Blues!
Preciso garimpar as incertezas da certeza.
Preciso tomar um porre de Rum.
Preciso pôr as cartas sobre a mesa.
Preciso flertar com O Bando de Teatro Olodum!
Preciso sentir a textura da tez da minha Preta.
Preciso prementemente ir á rua desnudo do habitual calandu.
Preciso assistir --- de novo --- á película O Baixio das Bestas.
Preciso pagar --- com os juros da cara --- a conta de luz!
Preciso dormir por 8 horas.
Preciso comprar os acústicos de Jorge Benjor, Seu Jorge e Paulinho da Viola.
Preciso gostar de comer chuchu e saber que não sou cult.
Preciso criar coragem para suportar o peso da minha Cruz!
Preciso encarar a barrela.
Preciso fazer 1 bilhão de aquarelas.
Preciso descobrir minhas raízes no Benin ou na Nigéria.
Preciso demonstrar mais amor pela Terra.
Preciso ser Angola, Moçambique, Sudão, Somália, Etiópia e África do Sul.
Preciso chupar acerola, umbu, cajá além de caju.
Preciso largar mão de querer rimar com o fonema e o corpo da letra U!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
https://twitter.com/jessebarbosa27
A LUZ DO AZUL-NEGRUME
O vento devassa o tédio:
No lugar onde antes
Prosperava a atmosfera da ausência,
Florescem, agora,
Vagas de calor e humor psicodélico.
A noite em remanso
Absconde um turbilhão
De enigmas e perigos:
A prata da lua
Testemunha êxtases,
Dores, sonhos, estertores, uivos assassinos, a marmórea secura
Que se propala pelo universo infinito!
O olor da urina
É o noturno perfume citadino:
Uma saudade visceral
Enlanguesce o corpo,
Embriagando a mente
De melancolia, alegria e nitroglicerina
Quando sorvo sentimentos de absinto e nicotina-saliva.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
A LIRA DA ERRÂNCIA DOS PENSAMENTOS
Bem no fluxo do sonho moribundo,
A mente procura o significado
Do que é vagar sem rumo.
Bem no seio do céu profundo,
Um bando de corvos, açores
Albatrozes, gaivotas e bem-te-vis
Voa inalando o eflúvio do caótico mundo.
Bem no âmago das chacinas, úlceras, mentiras,
Mazelas, senzalas modernas e opressão,
Repousam as guloseimas que anestesiam
Sensores de discernimento da razão.
Contra o triunfo
Do horizonte soturno,
Há a resistência da contumaz e inerme
Flor amarela que aflora
Do solo dos opacos olhos cor de insone névoa.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA