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SENHORA DOS PÍFANOS
08-02-2010 12:36
I
Senhora, senhorinha:
Idosa, doce velhinha
Que solta pela boca lufada de notas
Com sua flauta nordestina.
II
Senhora, senhorinha:
Os olhos azul-açucena
Guiaram-na por prolixos caminhos sinuosos,
Sendo-lhe uma poderosa fulgência de fleuma e sapiência.
III
Senhora, senhorinha:
Obstinada, sábia, aguerrida.
Na verdade, florescência de assente espera pela gloriosa aurora
Que morara com seus filhos numa gruta
Durante a luminosa estada
De uma lua boda de prata
Que tão-só assoma e cintila
No interior da Paraíba.
IV
Senhora, senhorinha:
Desde pequena, envolta pelo cândido véu da sonora harmonia;
Agora, aos 80,
Se tranforma na maestra da orquestra.
Sim, a orquestra. A orquestra de Pífanos.
Por isso e por outros motivos,
Eu digo:
Voe, Voe,
Música em notas que afloram de seu mágico intrumento;
Voe, Voe,
Ressonância-Passarinho. Desejo que sempre caminhe com o vento!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
POEMA AQUÉM DA POROSIDADE
08-02-2010 12:29
Meu olhar queda retrátil
Quando sorvido pelo silêncio
Do pensar largo.
Meu fazer nem graceja:
Seu sorriso é cênico
E sorumbático: tem sabor de Mastruz com Carqueja!
Minha jocosa verve
Chora quando readquire
A tez, o sumo
Do deserto e do cabaço.
Então o poema
Nem sangra, nem mija, nem filma, nem escarra, nem voa,
Nem clama, nem ama, nem brame: viva a serenidade!
Nem irrompe lágrimas e nem é porosidade.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
BAGAGEM, CREPÚSCULO E O DESCONHECIDO
08-02-2010 12:20
Tenho cãs nos olhos:
A noção de fugacidade da vida
Arrebata-me pouco depois que saio
Do aminiótico aquário no qual, por meses, residira.
Guardo, dentro das narinas,
O eflúvio da fumaça assassina:
Meu olhar é tragado
Pela viscosa pemeabilidade
Que floresce das vielas
Onde mora o desdém á prosperidade dos desvalidos Girassóis:
Então, como não conseguissem germinar
Tal rebentos da via Láctea da igualitária ascensão,
Encontram, nos afagos
Que vicejam da moderna
Prole da pólvora,
A senda para segurarem o pólen do poder nas mãos.
Entretanto, este curto caminho
É insidioso, visceralmente ferino:
O êxtase que ele proporciona
Cobra o preço do prematuro e imorredouro abismo.
Ah, a sofreguidão e o afinco,
Com os quais se entregam estes artífices famintos,
Alimentam a fome dos dantescos barões da ignescência
Por novos edens da sangrenta opulência!
Trago lágrimas nos olhos:
Penso no quão dardejaria
A lactente constelação de estrelas
Se houvesse escapado da gula do desconhecido que cria a supernova egoísta.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
ÁS PORTAS DA PSICODELIA POÉTICA
07-02-2010 13:44
Ando comendo água pela vastidão dos bares da mente.
Ando zarpando pelo Atlântico da memória náufraga, dolente e incontinenti!
Ando constantemente prenhe de paisagens
Pululantes e sôfregas por gente.
Ah,
Como eu queria
Que soubéssemos
Ser o errático bólide do córrego infrene:
Conhecendo o sentido de se estar
Com a planta dos pés na terra;
Levados pelo remanso
De se estar plenamente
Ao sabor do ar livre;
Dispostos a polenizar a matéria
Do desconhecido que
--- á nossa frente ---
Placidamente fica á espera.
Ando sob o efeito
Da alterosa poeira,
Deixada pela energia cinética das ideias
Quais rebentam dos pensamentos quânticos:
Olhar além da gravidade,
Cujo códice de leis nos circunscreve e rege;
Mergulhar no infinito oceano
De mundos paralelos,
Fervilhando nos átomos
Da nossa pele e osso;
Flutuar sobre a onipresente
Neblina da estupradora Tirania,
Juntando-me ás Estrelas
Que formem a Luz da Chama Coletiva
Para derrotarmos a pérfida Realeza da Hipocrisia
E parirmos --- finalmente ---
O Reino da Pax-Poesia.
Ah, que temeridade que digo:
A bem da verdade,
Estou comendo água demais por dias a fio!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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SONHO VEGETATIVO
07-02-2010 13:42
Quero que o meu poema estafe o malévolo estafeta.
Quero que o meu poema derrote e macule a vileza.
Quero que o meu poema indelevelmente seja
O matrimônio perfeito do lirismo com a dureza.
Quero que o meu poema
Sidere completamente o rejuvenescedor DNA da hipocrisia.
Quero que o meu poema
Revele os sofismas
Que alimentam incessantemente
A sanha e a peçonha
Do Imperialismo, da Tirania!
Quero que o meu poema
Tenha o poder de trazer á tona
A maior de todas as epifanias:
Que a busca pela IGUALDADE
Não é, de maneira alguma,
O Supremo Triunfo da Mentira!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
CAIS PARTICULARMENTE IMPERMEÁVEL
07-02-2010 13:32
Quero me ancorar no porto
Onde a maioria de nós ancora:
O seu espaço é altruísta, aberto
A qualquer um que nele
Queira vitaliciamente fazer o seu réquiem.
Réquiem qual embarca no veleiro do sabor da brisa
Dos idílios vividos: sim, na brama da saciedade, adormecidos.
Mas o problema que inquinodoa tal perspectiva
Sou eu: mar de malogros, cobardias e torturas.
Sou o meu próprio obstáculo: basta dizer que,
Quando um ânimo leviano me ataca, aos afagos,
A sombra da irresolução logo em mim paira inexorável.
Ah, o amargo das tormentas dum homem-barco
Vivendo no trapiche melancólico do naufrágio-fracasso!
Eu, enleado á bruma dos meus medos,
Fico a paralisar as ações da minha vontade,
Que sempre fica a querer rumar,
O quão mais rápido possa,
Para o porto-comuna da máxima glória.
Ah, morar eternamente no tornado benfazejo do éden,
Onde chegam as almas teimosas!
Contudo, a inação, com seu riso sardônico, me suplanta.
As chagas cicatrizadas reabrem: novamente afloram, inflamam.
Domam-me, porfim, outra vez, os demônios de outrora.
Ah, ode que ecoa nas sáfaras portuárias da minha memória.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
ESTUÁRIO DA ESPERANÇA
07-02-2010 13:22
A bruma do fracasso sustém e pavimenta a estrada do meu coti-
diano. Contemplo quase inerte o curso da vida fluir bem próxi-
mo de mim, embora nunca consiga de fato embarcar em seu
convés. Não, não que eu tenha a pretensão de intendê-lo, domar
o seu leme ao meu bel-prazer, não! Apenas queria estar presen-
te a todo o roteiro da viagem: do começo ao fim.
Mas o quase, o quase sempre impertinente não me deixa nem se-
quer partir. Então, engendro formas de lográ-lo; mas lá está ele,
toda mão, um passo a frente: a me comediar caudalosamente.
Ele me alimenta a idéia, me faz erigir templos indicativos: caste-
los de certeza. Todavia, toda feita, qual não é a minha surpre-
sa. Descubro-os matéria inerme, insólida, tênue. Não, não são
alcáceres de rocha os meus castelos. O são de areia. Areia,
cujo leve sopro despretensioso faz com que ela se desmanche
inteira.
Sim, depreendo claramente agora.
O meu caminho é água em ebulição:
ele ferve, ferve, ferve até o sonho formar vapores,
que se dispersam para longe, longe do alcance da minha tátil
concreção. E a estrada: a estrada se transmuda plenamente
em vácuos inteiros de asfalto da saudade daquilo
que quase houve. Sim, ela se converte na malha
viária da abortagem: sim, me refiro áquela traiçoeira
das engrenagens da desilusão!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
ENTRE ALGUM LUGAR(ODE A WALLY SALOMÃO)
07-02-2010 12:43
Vérvico galopar
Entre o poroso e o hermético:
Sua mente flui, reflui
Pelas alamedas, ribanceiras
Cordilheiras do Clássico,
Do Moderno e pare, assim,
Um Autêntico Contemporâneo
Fazer Poético
Cosmopolita, Latinoamericano,
Brasileiro, Nordestino, Baiano,
Plenitude do Universo retroagindo-se e se açambarcando!
Seu verso cavalga
Pela estrada da reflexiva,
Filosófica, sonora,
Jocosa, prosódica,
Culta, dionisíaca,
Difusa, diáfana,
Ferina, aquática, sábia,
Copiosa, prolífica, ígnea,
Reta,
Obliqua,
Acuidosa,
Expedita,
Gostosa,
Dúctil,
Livre,
Liberta,
Libertina,
Geral Geleia,
Gelatina,
Eclética,
Ladina Metalinguagem.
Seu poetar codifica e decodifica
A Metalinguagem.
Seu poetar
Penetra e ejacula a Metalinguagem.
Seu poetar
É a Metalinguagem
Que vocifera
Contra a lepra qual acomete e devassa a emoção
E contra o vírus
Da hipocrisia, da miséria, da vácua poetização!
Seu poetar
É a Metalinguagem
Que afaga, fecunda e soca
A janela da intimidade:
Expondo eloquentes aquarelas
Da introspectiva realidade.
Seu poetar
É a Metalinguagem
Que rompe e carcome
O indestrutível cadeado
Das senzalas da Palavra.
Seu poetar
É a Metalinguagem
Que descabaça
O vapor barato
Pois o falo que a aparelha
É verbo nascido
Do ventre do fogo e do aço.
Seu poetar
Alimenta-se
Da molécula
Que fabrica
A Metalinguagem:
Ele bebe a água da Metalinguagem.
Ele come a carne da Metalinguagem.
Ele assume a pelagem e a identidade da Metalinguagem.
Ele é a própria Metalinguagem, na verdade!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
O SIGNO DA MARGEM
07-02-2010 12:38
Caminho sobre a margem
Caminho sob a margem
Caminho transversalmente á margem
Caminho á margm da serra
Caminho á margem da pedra
Caminho á margem da floresta
Caminho á margem da égide contra a fera
Caminho ás margens da vala prenhe de merdas
Caminho ás margens da selva de pedra
Caminho á margem da magia do vento
Caminho á margem das colinas do tempo
Caminho á margem do Pégaso dos pensamentos
Caminho ás margens de quem semeia o sofrimento
Caminho á margem da maré
Caminho ás margens da prole da prolífica Política-Ralé
Caminho ás margens da Bélica Luxúria
Caminho ás margens do Genocídio de Inocentes e Cândidas Criaturas
Caminho ás margens do Magnânimo Irmão sem Moral e Candura
Caminho á margem da água cristalina
Caminho ás margens das Aves de Rapina
Caminho á margem da ilha Ametista
Caminho á margem da Chapada Diamantina
Caminho á margem da Espiral Suicida
Caminho á margem da vida sabor Tangerina
Caminho á margem da Fidedigna Libra
Caminho á margem do Dia que germine a Pátria Palestina
Caminho á margem da Era em que reine a Flora qual açaima o ódio
E a aura da boca apazigua]
Caminho á margem e ás margens de independentes mulheres, meninas
Caminho á margem de quando Nós não mais seremos gente cativa
Caminho á margem do topo das montanhas
Caminho á margem do arrebol da esperança
Caminho á margem do arrebate da chama da vingança
Caminho á margem das cercanias da memória
Caminho á margem do coração d’alma
Caminho ás margens e á margem do Poder da História
Caminho ás margens do vírus do sofisma
Caminho ás margens da epidemia da ira
Caminho á margem da imunidade ás areias movediças
Caminho á margem do refúgio que nos protege das sacerdotisas da morte
Caminho ás margens da senda que conduz os agônicos até as necrópoles
Caminho ás margens da aragem
Caminho ás margens do túmulo da tarde
Caminho ás margens do oceano das metástases
Caminho á margem do templo da verdade
Caminho á margem da miragem
Caminho á margem da consciência do ego de minhas ferragens
Caminho á margem do lúgubre carma que a verve invade
Caminho á margem das estrelas
Caminho á margem do límpido Poema
Caminho á margem da margem, entenda
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
NAUFRÁGIO DOS MEUS BARCOS DE OURO
07-02-2010 12:36
Nos últimos tempos,
Enquanto durmo
Sob os fleumáticos embalos da brisa da noite,
Minha mente erige sobre o chão da dimensão dos sonhos
O contemplar de uma lata piscina:
Imersos nela repousam
Airosos barcos em distorção:
Airosos porque concitam os portais do estético sortilégio
A inebriar as vistas daqueles que os fitam,
Derramando sobre eles o dilúvio da paixão.
Sim, tais embarcações também me evocam e me eivam,
Me asfixiando em seu oceânico espiral de fascinação:
Por isso resolvo ir ao encontro
De seus corpos em inanimação.
No entanto, ao chegar lá,
Recebo um entorpecente golpe de revelação:
Deslindo que aqueles barcos de Hércules,
Que navegavam pelo mar da minha tenra juventude,
Tão auríferos que chegavam a emanar o brilho da perfeição,
São, na verdade, jangadas quebradiças
De ouropel, de latão!
Agora, para não ser lacrado no mausoléu da misantropia,
Sento sobre o assento do sábio divã da mundana bíblia:
Trilho as alamedas de Ulisses, Orlando, O Processo, As Meninas;
Dois Irmãos, O Jogador, Vidas Secas, Senhora, Brás Cubas, Rei Lear;
Bicicleta Azul, Zero, O Paciente Inglês, 1984, Clara dos Anjos
E O Caçador de Pipas!
Eles me confinam no mais doce exílio:
O arquipélago dos pensamentos e das letras.
Eles me vestem com a insólita indumentária estática
Do mórbido comedor de celulósicas tapeçarias cosmopolitas:
Fazendo-me um hábil trânsfuga de um dos exércitos
Da pátria fixa.
Ah, efemeramente, eles me resgatam das profundezas do mar:
Mar onde reina a opacidade da fotossíntese da arte de sonhar;
Mar onde olho imoto O BÚFULO DA NOITE galopar
Celeremente na tramontana de meu corpo para sua fome saciar;
Mar onde a refração dos MEUS BARCOS DE OURO
É, para os copiosos jardins de esperança que cultivo,
Meu perpétuo crepuscular ferino!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
CANTO DO SER SEM AURORA E ALVORADA
07-02-2010 12:27
Um rio agônico que deságua
O ocaso emanando dos moribundos olhos que derramam lágrimas
A cordilheira que se metamorfoseia em cinzas de montanha
A espera impressa e circunscrita na hirta parede da lembrança
O estro que tomba ante o eclipse total da esperança
A criança que dorme, morre e não sonha
O bardo que é maninho pasto, desrepasto, marasmo, secura, insônia
Insânia!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
CÓRREGOS DE EPIFANIA
07-02-2010 12:24
Sinto Frida Khalo
Passear pela pradaria dos meus pensamentos:
Na tela de mim,
Ela pinta uma mulher sem rosto
Que faz verter sangue
Das tetas cor de rubro.
E do fluido vividamente vermelho
Assoma e fulgura
Um cavalo radiosamente negro
A trotar airosamente ligeiro.
Ele é um corcel
Que viaja sob o signo
Da velocidade da luz:
O colossal e galhardo quadrúpede
Traz impresso sobre o seu rutilante lombo
A imagem de uma velhaca águia gigante voando.
Ela, a águia,
Expele vórtices de fogo
E sorve o betúmico oceano caudaloso;
Ela, a águia,
Semeia espigas de ouro,
Colhendo para si o alcoólico dínamo suntuoso
E fomentando a fome para o infausto povo;
Ela, a águia,
E as outras magnas aves de rapina
Subjugam o mundo vivaz, pleno, maravilhoso
E deixam como legado
O caos, o crepúsculo, a dantesca mansão do vácuo para todos.
Ah, mas eu só pude sentir
A supernova do nosso milenar planetário
Quando a Frida Khalo
Fez da minha viagem
Á inefável esfera dos sonhos
Seu mais belo, eloquente e audacioso quadro novo.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
DE VOLTA A SEU CATIVEIRO
07-02-2010 12:17
Se pudesse, contemplaria
Novamente aquela alva face da hipocrisia,
Indagar-lhe-ia se já está a sentir
O eco lancinante do remorso pelos delitos perpetrados
Que afloram e grassam vivazmente em seu jardim
De sentimentos sepultados.
Ah, se houvesse ensejo,
Questioná-la-ia a respeito do seu rincão íntimo:
Lugar onde despeja as razões e causa que forjam seu estilo:
Suas mágoas, frustrações, a célula malsã
Que cancerara seu personal organismo.
Sim, desnudá-la-ia, se condição tivesse,
Até a última camada
Para saber finalmente quem você é de verdade.
Então, observaria o desespero
Brotar do seu semblante não mais altaneiro,
Porque sua pessoa saberia que eu penetrei seu eu:
Sim, desvendei seu infame segredo.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
CONSCIÊNCIA POLIFÓRMICA
07-02-2010 12:15
Sou dois e outros vários homens
Sou três, e alguns poucos comem
Sou um musical quarteto sem cordas
Sou cem vidas mortas.
Sou trânsfuga do vírus do alheamento
Sou a tinta que dissemina e coagula o político discernimento
Sou o vórtice transformado em primavera
Sou a pedra que erige oceanos, montanhas e Amazônicas Florestas.
Sou o relógio que açaima o furor da pressa
Sou Pearl Jam, Led zepeling, Pink Floyd, Nirvana, Ciranda, Forró, Metálica
Sou a magia do Samba, da Seresta, do Blues, da Bossa, da Música Clássica.
Sou muitas gentes, versos, prosas
Sou a dor, a alegria, a voz chorosa
Sou, enfim, uma miríade de formas: paisagens amorfas!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
HEMORRAGIA DA ESPERANÇA
07-02-2010 12:09(INSPIRADO PELO FILME BAIXIO DAS BESTAS)
Mulher-coisa
Mulher á venda
Mulher-nada
Mulher com a sua dignidade sangrada
Mulher-carne
Mulher que anda sempre ao largo do direito á privacidade
Mulher alugada á alheia sofreguidão selvagem
Mulher-propriedade
Mulher-objeto
Mulher-sexo
Mulher sujeitada á tirania da demanda
Mulher expulsa do reino da álacre infância
Mulher que ostenta
No âmago do seu corpo
Melancolia, padecimento e o dolente desgosto
Mulher cativa
Mulher-menina
Menina-presa
Menina confinada no cárcere da violência
Menina que encerra
No seu taciturno pranto
Uma vida vazia de sonhos
Menina errante, errática:
Sem horizontes a seguir
Sobre a ponte da sua dura jornada
Menina que tem por horizonte
O sol de uma sina malograda
Menina que tem como guia, ventura e carma
O vitalício caminhar sobre o vácuo da estrada
Feminina, Menina, Mulher, Maná
Manhã, Alvo da Chaga, Comida da Sáfara!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
PAISAGEM EXANGUE
06-02-2010 09:09
Tudo é breu:
O cotidiano
Transmuda-se na chuva ácida
Que pulveriza por completo
Sonhos forjados por aço, diamantes e ferro.
Tudo é bruma que cega:
A esperança fica estéril
Ao perder a sua centelha eterna
Para o alucinógeno e deletério
Oxigênio da guerra.
O caminho
São zilhões de labirintos prenhes de maledicência:
Neles, o imensurável deserto
Nos espreita: sedento por nossa alma,
Verve e consciência.
Queria ser um parlapatão ou um espantalho
Para que me mantivesse indiferente ao teatro.
No entanto a redoma de mim se despoja,
Deixando a minha retina ser ferida
Pela tétrica realidade belicosa.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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OS FILHOS DA AVE RENASCIDA DAS CINZAS
06-02-2010 09:05
Fôssemos Gaia,
Mandávamos chuva pra elidir a secura.
Fôssemos Gaia,
fazíamos a partilha por igual das terras.
Fôssemos Gaia,
Não daixávamos o povo migrar do campo
Rumo ás favelas.
Fôssemos Gaia,
Tornávamos o Sertão
No mais caudaloso mar exuberante do Atlântico.
Fôssemos Gaia,
Retalhávamos os devotos da Nordestina Desgraça
Com a poderosa espada da comunal Democracia sintática.
Fôssemos Gaia,
Seríamos o sol que libertaria
A gente severina da sina de Andrômeda da miséria contínua
Da qual tantas vezes versara o Sol-Mor da popular Poesia:
O nosso querido Mestre Patativa!
Fôssemos Gaia,
Transformávamos a Nação moldada
Pela lírica Pedra e Pedrada
Na mais bela, fausta
Das oceânicas Águas.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
REINO DEVOLUTO
06-02-2010 08:58
Gradativamente,
Ela cria atmosferas ignescentes
Dentro do corpo:
As labaredas ganham massa,
Recrudescendo-me e grassando-me
Por toda a planície e ravinas do frágil organismo primata.
Sinto-a degustar-me a pele:
Á erupção do vulcão
Minha matéria converge.
Então sou sauna:
Doravante me converto
No ponto máximo de trilhões de fornalhas.
Com efeito, minha temperatura atinge 40 graus Celsius na escala:
Metamorfoseio-me na infrene tremedeira insaciada,
Sou, portanto, a voraz febre hemorrágica!
Assim, dali a pouco,
A urina, o excremento e o plasma prorrompem sôfregos
Do humano moribundo esqueleto carnoso.
Afinal um mar vermelho se forma, expandindo-se suntuoso
domina, preenche toda a lacuna do íntimo cômodo
E deixa a vida sem gleba, latifúndio ou trono.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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CRIPTOMUNDO
06-02-2010 08:52
Há vocábulos que não conseguem migrar
Para a manancial da matéria:
Pululam como eternos escravos da mentosfera.
E quando, por acaso, escapam a tal ventura,
Chegando ao portal das metamorfoses,
Afluem ao sepulcro das indigentes mensagens insones.
Por não saber semantizar perfeitamente
O fluxo e o refluxo da crua realidade
Que ulceriza, alucina e tortura
A animosa, padecida prole da cavalgadura,
Guardo as poderosas palavras nas casamatas da teimosa utopia soturna.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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CRÔNICA SOBRE O DESERTO DIÁRIO
05-02-2010 12:42
Eclodem
--- em cada esquina de periferia
E ao anoitecer do dia ---
Toques de recolher
Que põem hiatos
No cotidiano querer
De almas humildes: renitentes ermidas!
Na plenitude do sol a pino,
Cilindros de fogo
Que esgarçam o horizonte
--- ao serem deflagrados ---
Operam uma metamorfose:
Transformam os arco-íris de vida
Em miríades da execrável necrópole!
Orgias de alucinógenos cooptam,
Com o seu orvalho,
Sentinelas e abocanham,
Usando suas peçonhentas mandíbulas,
Numerosas presas:
As engrenagens da violência
Cobrem de ouro e fragrâncias de opulência
A realeza da mais valia facínora, horrenda vivenda!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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ESCRIBIR EN CIELO DE AMARGURA
05-02-2010 12:37
Sou aquele que bivaga sobre gases de desejo e lágrimas de Concreto
Sou aquele que jaz na cama da ultra-abstrata fome absoluta
Sou aquele que sempre fica á margem do pleiástico santuário
Sou aquele que carrega sobre o dorso do cérebro inúmeras
Chagas de inépcia
Sou aquele que a monótona verbena perpétua encarcera
Sou aquele cuja estrada é pavimentada pelo vórtice da miragem
Finalmente eu sou aquele que sempre está fadado a interromper
Sua viagem.
JESSE BARBOSA DE OLIVEIRA
A JORNADA PARA O HAVEN DO NIILISMO
05-02-2010 12:34
Rastros de manhã perdida
Pavimentam o caminho:
Sinto --- no gozo que não se torna exequível ---
O naufrágio dos oníricos sentidos.
Em seguida, como se entrasse o Equilíbrio
Num definitivo estado de suspensão,
A Balança de Libra pende
Para o indômito viés da fúria
Muda e eunuca
Uma vez que as pessoas que sonham horizontais mudanças
---- a concórdia, o amor, a isonomia, a livre consonância ---
Não podem desarmar a bomba atômica
Da Aids da barbárie cotidiana
Que traga o soro da vida,
Deixando a herança dantesca das alamedas da alma sombria
Qual habita a mansão da marmórea insânia vitalícia.
Enquanto este baldio poema exaro,
As engrenagens da avara riqueza de rosto velhaco
Sorvem sôfregas o tecido conjuntivo
Dos oceanos cancerados por flagelos, cansaço e pela alvenaria do vazio.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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