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SENHORA DOS PÍFANOS

08-02-2010 12:36

 

 

                                

I

 

Senhora, senhorinha:

Idosa, doce velhinha

Que solta pela boca lufada de notas

Com sua flauta nordestina.

 

II

 

Senhora, senhorinha:

Os olhos azul-açucena

Guiaram-na por prolixos caminhos sinuosos,

Sendo-lhe uma poderosa fulgência de fleuma e sapiência.

 

III

 

Senhora, senhorinha:

Obstinada, sábia, aguerrida.

Na verdade, florescência de assente espera pela gloriosa aurora

Que morara com seus filhos numa gruta

Durante a luminosa estada

De uma lua boda de prata

Que tão-só assoma e cintila

No interior da Paraíba.

 

 

IV

 

Senhora, senhorinha:

Desde pequena, envolta pelo cândido véu da sonora harmonia;

Agora, aos 80,

Se tranforma na maestra da orquestra.

Sim, a orquestra. A orquestra de Pífanos.

Por isso e por outros motivos,

Eu digo:

Voe, Voe,

Música em notas que afloram de seu mágico intrumento;

Voe, Voe,

Ressonância-Passarinho. Desejo que sempre caminhe com o vento!

   

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

                

POEMA AQUÉM DA POROSIDADE

08-02-2010 12:29

 

 

                       

 

Meu olhar queda retrátil

Quando sorvido pelo silêncio

Do pensar largo.

 

 

Meu fazer nem graceja:

Seu sorriso é cênico

E sorumbático: tem sabor de Mastruz com Carqueja!

 

 

Minha jocosa verve

Chora quando readquire

A tez, o sumo

Do deserto e do cabaço.

 

 

Então o poema

Nem sangra, nem mija, nem filma, nem escarra, nem voa,

Nem clama, nem ama, nem brame: viva a serenidade!

Nem irrompe lágrimas e nem é porosidade.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BAGAGEM, CREPÚSCULO E O DESCONHECIDO

08-02-2010 12:20

 

 

       

Tenho cãs nos olhos:

A noção de fugacidade da vida

Arrebata-me pouco depois que saio

Do aminiótico aquário no qual, por meses, residira.

 

 

Guardo, dentro das narinas,

O eflúvio da fumaça assassina:

Meu olhar é tragado

Pela viscosa pemeabilidade

 

 

Que floresce das vielas

Onde mora o desdém á prosperidade dos desvalidos Girassóis:

Então, como não conseguissem germinar

Tal rebentos da via Láctea da igualitária ascensão,

 

 

Encontram, nos afagos

Que vicejam da moderna

Prole da pólvora,

A senda para segurarem o pólen do poder nas mãos.

 

 

Entretanto, este curto caminho

É insidioso, visceralmente ferino:

O êxtase que ele proporciona

Cobra o preço do prematuro e imorredouro abismo.  

 

 

 

Ah, a sofreguidão e o afinco,

Com os quais se entregam estes artífices famintos,

Alimentam a fome dos dantescos barões da ignescência

Por novos edens da sangrenta opulência!

 

 

Trago lágrimas nos olhos:

Penso no quão dardejaria

A lactente constelação de estrelas

Se houvesse escapado da gula do desconhecido que cria a supernova egoísta.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

ÁS PORTAS DA PSICODELIA POÉTICA

07-02-2010 13:44

 

 

     

Ando comendo água pela vastidão dos bares da mente.

Ando zarpando pelo Atlântico da memória náufraga, dolente e incontinenti!

Ando constantemente prenhe de paisagens

Pululantes e sôfregas por gente.

 

 

Ah,

Como eu queria

Que soubéssemos

Ser o errático bólide do córrego infrene:

 

Conhecendo o sentido de se estar

Com a planta dos pés na terra;

 

Levados pelo remanso

De se estar plenamente

Ao sabor do ar livre;

 

Dispostos a polenizar a matéria

Do desconhecido que

--- á nossa frente ---

Placidamente fica á espera.

 

 

Ando sob o efeito

Da alterosa poeira,

Deixada pela energia cinética das ideias

Quais rebentam dos pensamentos quânticos:

 

Olhar além da gravidade,

Cujo códice de leis nos circunscreve e rege;

 

Mergulhar no infinito oceano

De mundos paralelos,

Fervilhando nos átomos

Da nossa pele e osso;

 

Flutuar sobre a onipresente

Neblina da estupradora Tirania,

Juntando-me ás Estrelas

Que formem a Luz da Chama Coletiva

Para derrotarmos a pérfida Realeza da Hipocrisia

E parirmos --- finalmente ---

O Reino da Pax-Poesia.

 

                                                                                                          

 

 

Ah, que temeridade que digo:

A bem da verdade,

Estou comendo água demais por dias a fio! 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA  

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SONHO VEGETATIVO

07-02-2010 13:42

 

 

                                         

 

Quero que o meu poema estafe o malévolo estafeta.

Quero que o meu poema derrote e macule a vileza.

Quero que o meu poema indelevelmente seja

O matrimônio perfeito do lirismo com a dureza.

 

 

Quero que o meu poema

Sidere completamente o rejuvenescedor DNA da hipocrisia.

 

Quero que o meu poema

Revele os sofismas

Que alimentam incessantemente

A sanha e a peçonha

Do Imperialismo, da Tirania!

 

 

Quero que o meu poema

Tenha o poder de trazer á tona

A maior de todas as epifanias:

 

Que a busca pela IGUALDADE

Não é, de maneira alguma,

O Supremo Triunfo da Mentira!  

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

CAIS PARTICULARMENTE IMPERMEÁVEL

07-02-2010 13:32

 

 

 

 

 

Quero me ancorar no porto

Onde a maioria de nós ancora:

O seu espaço é altruísta, aberto

A qualquer um que nele

Queira vitaliciamente fazer o seu réquiem.

Réquiem qual embarca no veleiro do sabor da brisa

Dos idílios vividos: sim, na brama da saciedade, adormecidos.

 

 

Mas o problema que inquinodoa tal perspectiva

Sou eu: mar de malogros, cobardias e torturas.

Sou o meu próprio obstáculo: basta dizer que,

Quando um ânimo leviano me ataca, aos afagos,

A sombra da irresolução logo em mim paira inexorável.

Ah, o amargo das tormentas dum homem-barco

Vivendo no trapiche melancólico do naufrágio-fracasso!

 

 

Eu, enleado á bruma dos meus medos,

Fico a paralisar as ações da minha vontade,

Que sempre fica a querer rumar,

O quão mais rápido possa,

Para o porto-comuna da máxima glória.  

Ah, morar eternamente no tornado benfazejo do éden,

Onde chegam as almas teimosas!

 

 

Contudo, a inação, com seu riso sardônico, me suplanta.

As chagas cicatrizadas reabrem: novamente afloram, inflamam.

Domam-me, porfim, outra vez, os demônios de outrora.

Ah, ode que ecoa nas sáfaras portuárias da minha memória.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

ESTUÁRIO DA ESPERANÇA

07-02-2010 13:22

 

 

                         

 

A bruma do fracasso sustém e pavimenta a estrada do meu coti-

 diano. Contemplo quase inerte o curso da vida fluir bem próxi-

 mo de mim, embora nunca consiga de fato embarcar em seu

 convés. Não, não que eu tenha a pretensão de intendê-lo, domar

 o seu leme ao meu bel-prazer, não! Apenas queria estar presen-

 te a todo o roteiro da viagem: do começo ao fim.

 

 

Mas o quase, o quase sempre impertinente não me deixa nem se-

 quer partir. Então, engendro formas de lográ-lo; mas lá está ele,

 toda mão, um passo a frente: a me comediar caudalosamente.

 

 

Ele me alimenta a idéia, me faz erigir templos indicativos: caste-

 los de certeza. Todavia, toda feita, qual não é a minha surpre-

 sa. Descubro-os matéria inerme, insólida, tênue. Não, não são   

 alcáceres de rocha os meus castelos. O são de areia. Areia,

 cujo leve sopro despretensioso faz com que ela se desmanche     

 inteira.

 

Sim, depreendo claramente agora.

O meu caminho é água em ebulição:

 ele ferve, ferve, ferve até o sonho formar vapores,

 que se dispersam para longe, longe do alcance da minha tátil

 concreção. E a estrada: a estrada se transmuda plenamente

 em vácuos inteiros de asfalto da saudade daquilo

     que quase houve. Sim, ela se converte na malha 

       viária da abortagem: sim, me refiro áquela traiçoeira

            das engrenagens da desilusão!

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

ENTRE ALGUM LUGAR(ODE A WALLY SALOMÃO)

07-02-2010 12:43

 

 

      

 

 

Vérvico galopar

Entre o poroso e o hermético:

Sua mente flui, reflui

Pelas alamedas, ribanceiras

Cordilheiras do Clássico,

Do Moderno e pare, assim,

Um Autêntico Contemporâneo

 

 

Fazer Poético

Cosmopolita, Latinoamericano,

Brasileiro, Nordestino, Baiano,

Plenitude do Universo retroagindo-se e se açambarcando!

 

 

Seu verso cavalga

Pela estrada da reflexiva,

Filosófica, sonora,

Jocosa, prosódica,

Culta, dionisíaca,

Difusa, diáfana,

Ferina, aquática, sábia,

Copiosa, prolífica, ígnea,

Reta,

Obliqua,

Acuidosa,

Expedita,

Gostosa,

Dúctil,

Livre,

Liberta,

Libertina,

Geral Geleia,

Gelatina,

Eclética,

Ladina Metalinguagem.

 

 

Seu poetar codifica e decodifica

A Metalinguagem.

Seu poetar

Penetra e ejacula a Metalinguagem.

 

 

 

Seu poetar

É a Metalinguagem

Que vocifera

Contra a lepra qual acomete e devassa a emoção

E contra o vírus

Da hipocrisia, da miséria, da vácua poetização!

 

 

Seu poetar

É a Metalinguagem

Que afaga, fecunda e soca

A janela da intimidade:

Expondo eloquentes aquarelas

Da introspectiva realidade.

 

 

Seu poetar

É a Metalinguagem

Que rompe e carcome

O indestrutível cadeado

Das senzalas da Palavra.

 

 

Seu poetar

É a Metalinguagem

Que descabaça

O vapor barato

 

 

Pois o falo que a aparelha

É verbo nascido

Do ventre do fogo e do aço.

 

 

 

Seu poetar

Alimenta-se

Da molécula

Que fabrica

A Metalinguagem:

 

 

Ele bebe a água da Metalinguagem.

Ele come a carne da Metalinguagem.

Ele assume a pelagem e a identidade da Metalinguagem.

Ele é a própria Metalinguagem, na verdade!

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O SIGNO DA MARGEM

07-02-2010 12:38

 

 

                       

 

Caminho sobre a margem

Caminho sob a margem

Caminho transversalmente á margem

Caminho á margm da serra

Caminho á margem da pedra

Caminho á margem da floresta

Caminho á margem da égide contra a fera

Caminho ás margens da vala prenhe de merdas

Caminho ás margens da selva de pedra

Caminho á margem da magia do vento

Caminho á margem das colinas do tempo

Caminho á margem do Pégaso dos pensamentos

Caminho ás margens de quem semeia o sofrimento

Caminho á margem da maré

Caminho ás margens da prole da prolífica Política-Ralé

Caminho ás margens da Bélica Luxúria

Caminho ás margens do Genocídio de Inocentes e Cândidas Criaturas

Caminho ás margens do Magnânimo Irmão sem Moral e Candura

Caminho á margem da água cristalina

Caminho ás margens das Aves de Rapina

Caminho á margem da ilha Ametista

Caminho á margem da Chapada Diamantina

Caminho á margem da Espiral Suicida

Caminho á margem da vida sabor Tangerina

Caminho á margem da Fidedigna Libra

Caminho á margem do Dia que germine a Pátria Palestina

Caminho á margem da Era em que reine a Flora qual açaima o ódio

                                                              E a aura da boca apazigua]      

Caminho á margem e ás margens de independentes mulheres, meninas

Caminho á margem de quando Nós não mais seremos gente cativa

Caminho á margem do topo das montanhas

Caminho á margem do arrebol da esperança

Caminho á margem do arrebate da chama da vingança

Caminho á margem das cercanias da memória

Caminho á margem do coração d’alma

Caminho ás margens e á margem do Poder da História

Caminho ás margens do vírus do sofisma

Caminho ás margens da epidemia da ira

Caminho á margem da imunidade ás areias movediças

Caminho á margem do refúgio que nos protege das sacerdotisas da morte

Caminho ás margens da senda que conduz os agônicos até as necrópoles

Caminho ás margens da aragem

Caminho ás margens do túmulo da tarde

Caminho ás margens do oceano das metástases

Caminho á margem do templo da verdade

Caminho á margem da miragem

Caminho á margem da consciência do ego de minhas ferragens

Caminho á margem do lúgubre carma que a verve invade

Caminho á margem das estrelas

Caminho á margem do límpido Poema

Caminho á margem da margem, entenda 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NAUFRÁGIO DOS MEUS BARCOS DE OURO

07-02-2010 12:36

 

 

                 

Nos últimos tempos,

Enquanto durmo

Sob os fleumáticos embalos da brisa da noite,

Minha mente erige sobre o chão da dimensão dos sonhos

O contemplar de uma lata piscina:

Imersos nela repousam

Airosos barcos em distorção:

Airosos porque concitam os portais do estético sortilégio

A inebriar as vistas daqueles que os fitam,

Derramando sobre eles o dilúvio da paixão.

 

 

 

Sim, tais embarcações também me evocam e me eivam,

Me asfixiando em seu oceânico espiral de fascinação:

Por isso resolvo ir ao encontro

De seus corpos em inanimação.

No entanto, ao chegar lá,

Recebo um entorpecente golpe de revelação:

Deslindo que aqueles barcos de Hércules,

Que navegavam pelo mar da minha tenra juventude,

Tão auríferos que chegavam a emanar o brilho da perfeição,

São, na verdade, jangadas quebradiças

De ouropel, de latão!

 

 

Agora, para não ser lacrado no mausoléu da misantropia,

Sento sobre o assento do sábio divã da mundana bíblia:

Trilho as alamedas de Ulisses, Orlando, O Processo, As Meninas;

Dois Irmãos, O Jogador, Vidas Secas, Senhora, Brás Cubas, Rei Lear;

Bicicleta Azul, Zero, O Paciente Inglês, 1984, Clara dos Anjos

E O Caçador de Pipas!

 

Eles me confinam no mais doce exílio:

O arquipélago dos pensamentos e das letras.

Eles me vestem com a insólita indumentária estática

Do mórbido comedor de celulósicas tapeçarias cosmopolitas:

Fazendo-me um hábil trânsfuga de um dos exércitos

Da pátria fixa.

Ah, efemeramente, eles me resgatam das profundezas do mar:

Mar onde reina a opacidade da fotossíntese da arte de sonhar;

Mar onde olho imoto O BÚFULO DA NOITE galopar

Celeremente na tramontana de meu corpo para sua fome saciar;

Mar onde a refração dos MEUS BARCOS DE OURO

É, para os copiosos jardins de esperança que cultivo,

Meu perpétuo crepuscular ferino!  

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

CANTO DO SER SEM AURORA E ALVORADA

07-02-2010 12:27

 

 

           

 

Um rio agônico que deságua

O ocaso emanando dos moribundos olhos que derramam lágrimas

A cordilheira que se metamorfoseia em cinzas de montanha

A espera impressa e circunscrita na hirta parede da lembrança

O estro que tomba ante o eclipse total da esperança

A criança que dorme, morre e não sonha

O bardo que é maninho pasto, desrepasto, marasmo, secura, insônia

                                                                                                       Insânia!

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CÓRREGOS DE EPIFANIA

07-02-2010 12:24

 

 

                            

 

Sinto Frida Khalo

Passear pela pradaria dos meus pensamentos:

Na tela de mim,

Ela pinta uma mulher sem rosto

Que faz verter sangue

Das tetas cor de rubro.

 

 

E do fluido vividamente vermelho

Assoma e fulgura

Um cavalo radiosamente negro

A trotar airosamente ligeiro.

 

 

Ele é um corcel

Que viaja sob o signo

Da velocidade da luz:

O colossal e galhardo quadrúpede

Traz impresso sobre o seu rutilante lombo

A imagem de uma velhaca águia gigante voando.

 

 

Ela, a águia,

Expele vórtices de fogo

E sorve o betúmico oceano caudaloso;

Ela, a águia,

Semeia espigas de ouro,

Colhendo para si o alcoólico dínamo suntuoso

E fomentando a fome para o infausto povo;

Ela, a águia,

E as outras magnas aves de rapina

Subjugam o mundo vivaz, pleno, maravilhoso

E deixam como legado

O caos, o crepúsculo, a dantesca mansão do vácuo para todos.

 

 

 

Ah, mas eu só pude sentir                                                  

A supernova do nosso milenar planetário

Quando a Frida Khalo

Fez da minha viagem

Á inefável esfera dos sonhos

Seu mais belo, eloquente e audacioso quadro novo. 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

DE VOLTA A SEU CATIVEIRO

07-02-2010 12:17

 

         

 

Se pudesse, contemplaria

Novamente aquela alva face da hipocrisia,

Indagar-lhe-ia se já está a sentir

O eco lancinante do remorso pelos delitos perpetrados

Que afloram e grassam vivazmente em seu jardim

                      De sentimentos sepultados.

 

 

Ah, se houvesse ensejo,

Questioná-la-ia a respeito do seu rincão íntimo:

Lugar onde despeja as razões e causa que forjam seu estilo:

Suas mágoas, frustrações, a célula malsã

Que cancerara seu personal organismo.

 

 

Sim, desnudá-la-ia, se condição tivesse,

Até a última camada

Para saber finalmente quem você é de verdade.

Então, observaria o desespero

Brotar do seu semblante não mais altaneiro,

Porque sua pessoa saberia que eu penetrei seu eu:

Sim, desvendei seu infame segredo.

 

 JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

CONSCIÊNCIA POLIFÓRMICA

07-02-2010 12:15

 

 

                          

 

Sou dois e outros vários homens

Sou três, e alguns poucos comem

Sou um musical quarteto sem cordas

Sou cem vidas mortas.

 

 

Sou trânsfuga do vírus do alheamento

Sou a tinta que dissemina e coagula o político discernimento

Sou o vórtice transformado em primavera

Sou a pedra que erige oceanos, montanhas e Amazônicas Florestas.

 

 

Sou o relógio que açaima o furor da pressa

Sou Pearl Jam, Led zepeling, Pink Floyd, Nirvana, Ciranda, Forró, Metálica

Sou a magia do Samba, da Seresta, do Blues, da Bossa, da Música Clássica.

 

 

Sou muitas gentes, versos, prosas

Sou a dor, a alegria, a voz chorosa

Sou, enfim, uma miríade de formas: paisagens amorfas!

 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HEMORRAGIA DA ESPERANÇA

07-02-2010 12:09

          (INSPIRADO PELO FILME BAIXIO DAS BESTAS)             

 

 

Mulher-coisa

Mulher á venda

Mulher-nada

Mulher com a sua dignidade sangrada

Mulher-carne

Mulher que anda sempre ao largo do direito á privacidade

Mulher alugada á alheia sofreguidão selvagem

Mulher-propriedade

Mulher-objeto

Mulher-sexo

Mulher sujeitada á tirania da demanda

Mulher expulsa do reino da álacre infância

Mulher que ostenta

No âmago do seu corpo

Melancolia, padecimento e o dolente desgosto

Mulher cativa

Mulher-menina

Menina-presa

Menina confinada no cárcere da violência

Menina que encerra

No seu taciturno pranto

Uma vida vazia de sonhos

Menina errante, errática:

Sem horizontes a seguir

Sobre a ponte da sua dura jornada

Menina que tem por horizonte

O sol de uma sina malograda

Menina que tem como guia, ventura e carma

O vitalício caminhar sobre o vácuo da estrada

Feminina, Menina, Mulher, Maná

Manhã, Alvo da Chaga, Comida da Sáfara!

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

PAISAGEM EXANGUE

06-02-2010 09:09

 

 

                             

 

Tudo é breu:

O cotidiano

Transmuda-se na chuva ácida

Que pulveriza por completo

Sonhos forjados por aço, diamantes e ferro.

 

 

Tudo é bruma que cega:

A esperança fica estéril

Ao perder a sua centelha eterna

Para o alucinógeno e deletério

Oxigênio da guerra.

 

 

O caminho

São zilhões de labirintos prenhes de maledicência:

Neles, o imensurável deserto

Nos espreita: sedento por nossa alma,

Verve e consciência.

 

 

Queria ser um parlapatão ou um espantalho

Para que me mantivesse indiferente ao teatro.

No entanto a redoma de mim se despoja,

Deixando a minha retina ser ferida

Pela tétrica realidade belicosa.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

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OS FILHOS DA AVE RENASCIDA DAS CINZAS

06-02-2010 09:05

 

 

                 

 

Fôssemos Gaia,

Mandávamos chuva pra elidir a secura.

 

 

Fôssemos Gaia,

fazíamos a partilha por igual das terras.

 

 

Fôssemos Gaia,

Não daixávamos o povo migrar do campo

Rumo ás favelas.

 

 

Fôssemos Gaia,

Tornávamos o Sertão

No mais caudaloso mar exuberante do Atlântico.

 

 

Fôssemos Gaia,

Retalhávamos os devotos da Nordestina Desgraça

Com a poderosa espada da comunal Democracia sintática.

 

 

 

Fôssemos Gaia,

Seríamos o sol que libertaria

A gente severina da sina de Andrômeda da miséria contínua

Da qual tantas vezes versara o Sol-Mor da popular Poesia:

O nosso querido Mestre Patativa!

 

 

 

Fôssemos Gaia,

Transformávamos a Nação moldada

Pela lírica Pedra e Pedrada

Na mais bela, fausta

Das oceânicas Águas.

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

REINO DEVOLUTO

06-02-2010 08:58

 

 

                                       

 

Gradativamente,

Ela cria atmosferas ignescentes

Dentro do corpo:

 

 

As labaredas ganham massa,

Recrudescendo-me e grassando-me

Por toda a planície e ravinas do frágil organismo primata.

 

 

Sinto-a degustar-me a pele:

Á erupção do vulcão

Minha matéria converge.

 

 

Então sou sauna:

Doravante me converto

No ponto máximo de trilhões de fornalhas.

 

 

Com efeito, minha temperatura atinge 40 graus Celsius na escala:

Metamorfoseio-me na infrene tremedeira insaciada,

Sou, portanto, a voraz febre hemorrágica!

 

 

Assim, dali a pouco,

A urina, o excremento e o plasma prorrompem sôfregos

Do humano moribundo esqueleto carnoso.

 

 

Afinal um mar vermelho se forma, expandindo-se suntuoso
domina, preenche toda a lacuna do íntimo cômodo

E deixa a vida sem gleba, latifúndio ou trono.

 

 

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

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CRIPTOMUNDO

06-02-2010 08:52

 

 

                                                                

 

 

 

 

Há vocábulos que não conseguem migrar

Para a manancial da matéria:

Pululam como eternos escravos da mentosfera.

 

 

E quando, por acaso, escapam a tal ventura,

Chegando ao portal das metamorfoses,

Afluem ao sepulcro das indigentes mensagens insones.

 

 

Por não saber semantizar perfeitamente

O fluxo e o refluxo da crua realidade

Que ulceriza, alucina e tortura

A animosa, padecida prole da cavalgadura,

Guardo as poderosas palavras nas casamatas da teimosa utopia soturna.   

  

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

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05-02-2010 13:34

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CRÔNICA SOBRE O DESERTO DIÁRIO

05-02-2010 12:42

 

 

  

 

 

Eclodem

--- em cada esquina de periferia

E ao anoitecer do dia ---

 

 

Toques de recolher

Que põem hiatos

No cotidiano querer

De almas humildes: renitentes ermidas!

 

 

Na plenitude do sol a pino,

Cilindros de fogo

Que esgarçam o horizonte

 

 

--- ao serem deflagrados ---

Operam uma metamorfose:

Transformam os arco-íris de vida

Em miríades da execrável necrópole!

 

 

Orgias de alucinógenos cooptam,

Com o seu orvalho,

Sentinelas e abocanham,

Usando suas peçonhentas mandíbulas,

Numerosas presas:

As engrenagens da violência

Cobrem de ouro e fragrâncias de opulência

A realeza da mais valia facínora, horrenda vivenda!

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 

 

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ESCRIBIR EN CIELO DE AMARGURA

05-02-2010 12:37

 

 

 

 

 

 

 

Sou aquele que bivaga sobre gases de desejo e lágrimas de Concreto

Sou aquele que jaz na cama da ultra-abstrata fome absoluta

Sou aquele que sempre fica á margem do pleiástico santuário

Sou aquele que carrega sobre o dorso do cérebro inúmeras

Chagas de inépcia

Sou aquele que a monótona verbena perpétua encarcera

Sou aquele cuja estrada é pavimentada pelo vórtice da miragem

Finalmente eu sou aquele que sempre está fadado a interromper

Sua viagem.    

 

JESSE BARBOSA DE OLIVEIRA

 

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A JORNADA PARA O HAVEN DO NIILISMO

05-02-2010 12:34

 

                   

 

 

 

Rastros de manhã perdida

Pavimentam o caminho:

Sinto --- no gozo que não se torna exequível ---

O naufrágio dos oníricos sentidos.

 

 

Em seguida, como se entrasse o Equilíbrio

Num definitivo estado de suspensão,

A Balança de Libra pende

Para o indômito viés da fúria

 

 

Muda e eunuca

Uma vez que as pessoas que sonham horizontais mudanças

---- a concórdia, o amor, a isonomia, a livre consonância ---

Não podem desarmar a bomba atômica

 

 

Da Aids da barbárie cotidiana

Que traga o soro da vida,

Deixando a herança dantesca das alamedas da alma sombria

Qual habita a mansão da marmórea insânia vitalícia.

 

 

Enquanto este baldio poema exaro,

As engrenagens da avara riqueza de rosto velhaco

Sorvem sôfregas o tecido conjuntivo

Dos oceanos cancerados por flagelos, cansaço e pela alvenaria do vazio.

 

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

https://www.myspace.com/nirvanapoetico

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